Schumacher Ciências Naturais

Capítulo II — Níveis de Ser
Ciências Naturais

Física e Química lidam com o nível mais baixo, “minerais”. A este nível, x, y, e z — vida, consciência e consciência de si — não existem (ou, em qualquer caso, são totalmente inoperantes e, por conseguinte, não podem ser notados). Física e Química nada podem nos dizer, absolutamente nada, sobre eles. Estas ciências não possuem conceitos relativos a esses poderes, e são incapazes de descrever os seus efeitos. Onde há vida, há forma, Gestalt, que se reproduz a si mesmo vez e vez de novo, a partir de sementes ou seres semelhantes que não possuem essa Gestalt, mas a desenvolvem no processo de crescimento. Nada comparável pode ser encontrado em Física ou Química.

Dizer que a vida nada mais é que uma propriedade de certas combinações peculiares dos átomos é como dizer que Shakespeare’s Hamlet não é senão uma propriedade de uma peculiar combinação de letras. A verdade é que a combinação peculiar de letras nada mais é senão uma propriedade de Shakespeare’s Hamlet. As versões em francês ou alemão da peça “têm” diferentes combinações de letras.

A coisa mais extraordinária sobre as modernas “ciências da vida” é que elas dificilmente lidam com a vida como tal, o fator x, mas dedicam infinita atenção, ao estudo e à análise do corpo físico-químico que é o portador da vida. É bem capaz que a ciência moderna não tenha nenhum método para confrontar com a vida como tal. Se assim for, que seja admitido francamente, não há desculpa para a pretensão de que a vida nada mais é senão física e química.

Nem há qualquer justificativa para a pretensão de que a consciência não seja senão uma propriedade da vida. Para descrever um animal como um sistema físico-químico de extrema complexidade é sem dúvida perfeitamente correto, exceto que ignora a “animalidade” do animal. Alguns zoologistas, pelo menos, têm avançado para além deste nível de erudito absurdo e desenvolveram uma habilidade de ver em animais algo mais que máquinas complexas. Sua influência, porém, é ainda lamentavelmente pequena, e com a crescente “racionalização” de estilo de vida moderna, mais e mais animais estão sendo tratados como se eles realmente fossem, nada mais que “animais máquinas”. (Este é um exemplo muito eloquente de como as teorias filosóficas, não importa quão absurdas e ofensivas ao senso comum, tendem a se tornar, depois de um tempo, “prática normal” na vida cotidiana.)