Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Santos Sol

domingo 20 de março de 2022

O SOL
Em todos os ciclos culturais surge o sol como símbolo mais constante da divindade. Aqueles que buscam uma explicação naturalista das religiões, em suas especulações, prendem-se, sobretudo, ao temor que causa ao homem primitivo os longos crepúsculos vespertinos, que antecedem as noites, como também a imensa satisfação do amanhecer, em que o sol ergue-se outra vez no horizonte.

Percorre o sol, durante o dia, diversas fases, a de ascensão e a de declínio. A noite penetra pelos abismos do mundo e vencendo todas as oposições, renasce outra vez, para outra vez realizar o mesmo ciclo.

Oferecia o sol o exemplo do herói em suas lutas constantes, mas vitorioso cada vez e cada vez vencido, numa luta eterna, com fluxos e refluxos, vitórias, derrotas e ressurreições.

Esta pujança do sol seria para o homem primitivo o exemplo do extraordinário poder que ele possui, símbolo do máximo poder e, conseqüentemente, do poder supremo.

Não há que negar o aspecto positivo desta concepção naturalista. Realmente o sol é, em todas as culturas, o deus-herói, que conhece as vicissitudes, inclusive o holocausto, para ressurgir afinal, outra vez, vitorioso.

Encontramos esse símbolo na grande festa de Natal, da luz que cresce, crescite lux.

É o sol invictos dos romanos, Apolo, o Helios dos gregos, Amon e Aton dos egípcios, que serviu de símbolo mais vivo na religião de Akenaton, no Novo Império Egípcio, há treze séculos antes de Cristo. No cristianismo, encontramos em S. Francisco estas palavras poéticas

"Louvado sejas Tu, Senhor, com todas as tuas criaturas, principalmente o senhor Sol, meu irmão, que nos traz o dia e por meio do qual Tu iluminas; é belo e resplandece com o grande brilho de Ti, ó Altíssimo, ele traz a tua imagem. Louvado sejas Tu, Senhor, pela minha irmã Lua, e pelas estrelas, Tu as formastes no céu, luminosas, preciosas e belas."

Esta fraternidade cósmica entre os homens e as coisas do mundo é uma exaltação às participações que todas coisas, têm com as perfeições divinas. Toda a literatura clássica está cheia de hinos ao sol, e é ele sempre o símbolo da iluminação, da beatitude, da vitória do bem, etc.

Fonte da vida e de toda a ordem do nosso sistema solar, é o sol uma presença indireta da divindade junto a nós, daí o seu culto estar presente em todo o orbe, com as naturais variâncias dos diversos ciclos culturais.

Ao sol erguem-se Templos, como também as mais esperançosas orações humanas. A sua face resplandecente cega-nos, e se podemos sentir o benefício dos seus raios, não podemos vê-lo face a face, porque nos cega. Também face a face, nós criaturas finitas, não podemos ver a divindade, cuja luz resplandecente também nos cegaria.

Encontra-se assim, no sol, uma série de perfeições que uma, análise analógica, logo nos mostraria a significação simbólica, bem como a justificação do que exotericamente estabelecem inúmeras religiões. [1]



[1No livro do prof. Anibal Vaz de Mello encontramos um estudo sobre os mitos solares nas diversas religiões, para onde remetemos o leitor desejoso de conhecer as particularidades das diversas crenças, bem como os pontos de encontro, tão bem evidenciados nessa obra.