ARTIGO 4 – O 3, A TRÍADA, O TERNÁRIO, A TRINDADE
O 3 é o símbolo consequentemente da relação, e sabemos que, na Teologia, há relações entre Deus-Pai, como vontade, Deus-Filho, como Intelecto e Deus-Espírito-Santo como Amor, o infinito poder unitivo do Ser. Podem-se formular outras interpretações da trindade, mas sempre há, no 3, um sentido da relação das partes ou dos elementos ou das pessoas (como na trindade cristã).
O 3 é ainda o símbolo do intermediário, do mediador. Entre as antíteses, há sempre um ponto de unificação, que medeia; o intermediário, o grande mediador entre a divindade e o homem, por exemplo, através do símbolo de Cristo, que é o grande mediador.
O 3 é o símbolo do dinamismo, porque se 2 pode dar o equilíbrio, três será o rompimento dinâmico desse equilíbrio, sem destruir a díade, a antinomia, mas que no interatuar, nas relações que se formam, expressa as modificações que uma sofre pela ação da outra e vice-versa, e finalmente a diferença com que entra na nova relação, pela influência já sofrida pela ação da outra, que, por sua vez, já é diferente, explicando assim o devir dinâmico que o 2 apenas fundamenta e o três capta como processo em seu desenvolvimento.
O 3 é assim o símbolo da relação, pois só há relação onde há dois termos que se colocam um em face do outro. A relação implica os relacionantes que podem ser diadicamente considerados como opostos, como o expressa o pitagorismo.
Mas para que surja uma relação é imprescindível um ponto de identificação, que é dado pela unidade ou pelo mediador, o intermediário.
O ser, dizia Pitágoras, (e aqui se refere ao ser finito) é a relação entre ato e potência, entre determinação e determinabilidade, entre forma e matéria, entre finito e infinito, porque o finito se relaciona ao infinito, por uma relação de dependência do primeiro ao segundo, não mútua, portanto. Mas esse infinito unifica os extremos opostos, ou as antinomias, etc., pois os seres finitos não são apenas produtos de uma aggregatio para o pitagorismo, um mixton, mas uma identificação que os transcende (Chaignet, “Pythagore et la philosophie pythagoricienne” p. 267).
O que se opõe numa antítese, para ser um contrário, deve pertencer ao mesmo gênero ou espécie, ou se substancialmente os relacionamentos pertencem a gêneros diversos, só longinquamente, na lógica, incluídos num gênero maior, se oporão como contrários naquela nota acidental, que está incluída numa espécie ou gênero.
Não há oposição contrária entre uma cobra e uma árvore, mas o verde mais claro e o verde mais escuro de uma ou de outra permite distingui-las, no verde, como contrários do verde, embora não extremos. Entre o branco e o preto há uma oposição contrária na intensidade de luminosidade. Entre o vermelho e o amarelo, há uma contrariedade escalar no gênero cor.
E nos encontramos aqui num ponto importante da gnoseologia que os antigos hermetistas, e sobretudo os pitagóricos de grau de teleiotes, conheciam e examinavam. Não há conhecimento apenas (e referimo-nos ao conhecimento humano) com a presença de diferenças acidentais (qualitativas, quantitativas, relacionais, modais, etc).
Estas não seriam comparadas sem a presença de um meio termo da comparação.
Só notamos que há diferenças, porque há diferenças relativas a algo que idealmente está presente no ato gnoseológico. E esse algo é o nosso esquema noético da espécie ou do gênero do que distinguimos, do que se opõe.
É nesse sentido que nos pitagóricos, e no simbolismo de todas as religiões, diz-se que não há conhecimento sem o 3, que o conhecimento exige o ternário, e essa a razão por que 3 é símbolo do conhecimento.
Como estabelecer uma polaridade sem um ponto de referência? E esse ponto de referência é o que identifica os extremos, identificados na espécie ou no gênero.
Não se esgota aí a simbólica do ternário. Cronologicamente, o presente se opõe ao passado, mas são mediados pelo agora que os identifica.
Nos seres vivos o tempo é visto ternariamente: juventude, maturidade e velhice; ou começo, meio e fim.
Ante os opostos-contrários, colocados face a face, surge uma relação de harmonia, ordem e até de lei. Foi comparando os fatos da física, nas suas oposições contrárias, que os cientistas captaram as leis e assim também se observa nos outros setores do conhecimento humano. Por isso três é símbolo da lei, do equilíbrio dinâmico que a balança física simboliza.
Das relações de oposição surgem novas modais que constituem uma série. Eis por que o três é símbolo da progressão e do processo, como já estudamos.
-* Santos Três Culturas – O TRÊS EM DIFERENTES TRADIÇÕES E SISTEMAS DE PENSAMENTO