O SER NA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA EM FACE DA FILOSOFIA CLÁSSICA
Na filosofia contemporânea, muitas têm sido as tentativas para conseguir alcançar uma Ontologia. Por exemplo, para Heidegger, há cinco espécies de ser:
1) o ser de nós mesmos – a existência (Existenz);
2) o ser das coisas que vemos, como as montanhas, os utensílios, etc;
3) o ser dos entes vivos;
4) o ser dos entes matemáticos, que sub-sistem, sem ser propriamente. Sem existir, sem subsistência de per se, o 2 é desdobrado em dois, pois ele considera que o ser dos instrumentos, que utilizamos, é um ser irredutível ao das montanhas que vemos.
Todos esses seres são irredutíveis uns aos outros.
Essa divisão é explicada da seguinte forma: o homem utiliza instrumentos: primeira fase. Só se torna espectador deles, como cientista, estudioso, posteriormente. Não compreendemos essa irredutibilidade senão como resultado de uma atitude, de uma perspectiva.
Vejamos, agora Sartre: para ele, há duas categorias de ser:
1) o serem si;
2) o ser para si.
Jaspers já nos mostrou que, por ser o homem incapaz de ter uma visão total das coisas, a idéia de ser lhe é recusada, pois só conhece espécies de ser, o que torna impossível unificar a idéia de ser.
Tanto o materialismo de um lado, como o idealismo de outro, que tentaram nos dar uma visão unificada do ser, malograram. O que temos certeza é de uma multiplicidade de seres,, diz ele.
Se recordamos Parmênides, notaremos desde logo que este, transforma o ser em sujeito universal de nossos juízos. É uma esfera perfeita. Os seres seriam apenas símbolos desse ser. Com Sócrates e Platão, o ser muda de lugar. De sujeito passa a ser atributo, o que leva ao problema da realidade das idéias. negativas, que mais adiante estudaremos.
Para Sócrates é o atributo, o que afirmamos como sendo.
O ser, para Platão, era escalar, pois quanto mais perfeita é uma coisa, mais é. O ser é assim atributo e perfeição.
Para Kant não é nem perfeição, nem atributo, mas sim verbo. Diz Kant que quando afirmamos que uma coisa é, não, ajuntamos nenhum atributo, nenhum predicado. O ser é apenas uma posição (Setzung), verbo.
Nada nos diz que na natureza as coisas sejam ordenadas segundo o esquema sujeito-predicado. Portanto, na proposição apenas, nada temos ainda do ser. Nada nos diz na natureza que, na realidade, alguma coisa corresponde a esse sujeito ser, a esse predicado ser, ou a esse verbo ser. Daí muitos considerarem o ser como uma idéia artificial, como Wahl.
No “Sofista”, Platão nos disse que ser é dynamis, potência.
Para Wah1 o ser é relação. Temos o sentimento do ser quando algo nos resiste. Essa resistência é uma realidade que se nos opõe.
Já não temos uma idéia do ser, mas um sentir do ser. A aceitação de um devir na natureza nega a estabilidade de um ser. (Opinião de Nietzsche, Bergson, Protágoras).
Platão, no entanto, ao aceitar o devir do ser (existir) admitia, atrás dele, algo estável, algo que subestá. O ser, na filosofia, foi muitas vezes confundido com substância, que seria o sujeito acompanhado de seus atributos. Mostra-nos Bradley que, na realidade, não há distinção entre sujeito e atributos, que coincidem na coisa.
Sintetizemos — Ser:
-* como sujeito – qualitativo – extensivamente considerado.
-* como atributo – qualitativo – intensivamente considerado.
-* como verbo, relação, conexão – inerência, ação
O ser é o sujeito de todos os atributos e o atributo de todos os sujeitos, cuja consistência é ativa (ato, em seus graus, e em sua hibridez com a potência).
Todas essas posições encontrarão, nos próximos artigos, argumentos a seu favor, e refutações das mais variadas espécies, vindas de múltiplas direções. Antes, porém, torna-se necessário investigar certos aspectos que sobre eles se fundamentarão as análises mais exigentes.