Na época hostil à metafísica de 1914, a esfera do valor (G. Simmel), ainda que a do valor do dinheiro, era asilo para os resíduos metafísicos. E assim – voltando ao ponto irrupção – também acontece em Husserl, que defende contra as toupeiras da psicologia naturalista o valor não-psicológico da lógica como um reino de ideias platônico.
Em uma postura defensiva semelhante está o jovem Martin Heidegger. Também ele encontra seus resíduos metafísicos, com Husserl (e Emil Lask) no mistério do valor, na esfera da pura logicidade, que resiste a todas as tentativas de relativização através da biologia ou da psicologia. Naquela esfera está preservado para ele o valor transcendental da vida. Mas permanece obscura a ligação entre lógica e vida espiritual. Em seu texto Novas Investigações sobre Lógica, de 1912, Heidegger chama o psíquico de base operacional para o lógico, mas no geral permanecem ali problemas singulares que talvez, nunca sejam esclarecidos.
Com a lógica, Heidegger pensa poder apanhar uma ponta de valor supra-individual, e para ele isso significa muito, pois quer acreditar na realidade objetiva do espírito. O espírito não deve ser apenas um produto da nossa cabeça. Mas ele também quer admitir que o mundo exterior tem realidade autônoma. Não pode-se evaporar tornando-se quimera do espírito subjetivo. Essa seria pois a versão em teoria do conhecimento, do ilimitado autonomismo do eu que ele critica. Heidegger quer evitar as duas coisas: a queda no materialismo e a falsa subida aos céus do idealismo subjetivo. Suas primeiras tentativas filosóficas orientam-se por um realismo crítico para o qual vale: só quem crê na determinidade de uma natureza real empenhará suas forças no conhecimento dela (GA I, 15). E ele se orienta segundo a possibilidade de um espírito objetivo.
Encontra esse espírito no tesouro de verdades reveladas da igreja, mas isso não pode bastar ao filósofo, por isso a segunda descoberta: a lógica e seu valor objetivo. (excertos de Rüdiger Safranski, Heidegger)