Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Ricoeur: ética e moral

sexta-feira 10 de janeiro de 2020

nossa tradução

Devemos distinguir entre moralidade e ética? Para dizer a verdade, nada na etimologia ou na história do uso das palavras o impõe: uma vem do grego, a outra do latim, e ambas se referem à ideia de costumes (ethos   , mores); no entanto, uma nuance pode ser discernida, dependendo se se enfatiza o que é considerado bom ou o que se impõe como obrigatório. É por convenção que reservarei o termo ética para o objetivo de uma vida realizada sob o signo de ações consideradas boas, e moral   para o lado obrigatório, marcada por normas, obrigações, caracterizadas ao mesmo tempo por uma exigência de universalidade e por um efeito de restrição. Podemos facilmente reconhecer na distinção entre o objetivo de uma vida boa e a obediência aos padrões a oposição entre duas heranças: a herança aristotélica, onde a ética é caracterizada por sua perspectiva teleológica (de telos  , significando fim); e uma herança kantiana, onde a moralidade é definida pelo caráter de obrigação da norma, portanto, de um ponto de vista deontológico (significando precisamente dever). Proponho, sem preocupação com a ortodoxia aristotélica ou kantiana, defender: 1) o primado da ética sobre a moral; 2) a necessidade, no entanto, de que o objetivo ético passe pelo crivo da norma; 3) a legitimidade de um recurso da norma ao visado, quando a norma conduz a conflitos para os quais não há outra questão senão uma sabedoria prática que se refira ao que, na visão ética, é mais atento à singularidade das situações.

Original

Faut-il distinguer entre morale et éthique? A vrai dire, rien dans l’étymologie ou dans l’histoire de l’emploi des mots ne l’impose: l’un vient du grec, l’autre du latin, et les deux renvoient à l’idée de moeurs (ethos, mores); on peut toutefois discerner une nuance, selon que l’οη met l’accent sur ce qui est estimé bon ou sur ce qui s’impose comme obligatoire. C’est par convention que je réserverai le terme d’ éthique pour la visée d’une vie accomplie sous le signe des actions estimées bonnes, et celui de morale pour le côté obligatoire, marqué par des normes, des obligations, des interdictions caractérisées à la fois par une exigence d’universalité et par un effet de contrainte. On reconnaítra aisément dans la distinction entre visée de la vie bonne et obéissance aux normes l’opposition entre deux héritages: l’héritage aristotélicien, où l’éthique est caractérisée par sa perspective téléologique (de telos, signifiant ///?); et un héritage kantien, où la morale est définie par le caractère d’obligation de la norme, donc par un point de vue déontologique (déontologique signifiant précisément devoir). Je me propose, sans souci d’orthodoxie aristotélicienne ou kantienne, de défendre: 1) la primauté de l’éthique sur la morale; 2) la nécessité néanmoins pour la visée éthique de passer par le crible de la norme; 3) la légitimité d’un recours de la norme à la visée, lorsque la norme conduit à des conflits pour lesquels il n’est pas d’autre issue qu’une sagesse pratique qui renvoie à ce qui, dans la visée éthique, est le plus attentif à la singularité des situations.» [RICOEUR  , Paul. «Éthique et Morale», in Revue de l’Institut Catholique de Paris 34 (1990) pg. 131; reprod. dans «Éthique et morale», in Revista Portuguesa de Filosofia 46 (1990) 1, pg. 5.]


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