Um outro aspecto da espacialidade de Dasein é a “orientação” (GA20, 308, 319ss: Orientation) ou “direcionalidade” (GA20, 308; SZ, 104, 108ss: Ausrichtung, Ausgerichtetheit). Ausrichtung está associada a “direções” (Richtung(en)), sobretudo “esquerda, direita, em frente”, que, como a nossa habilidade de apontar para as coisas, baseiam-se em nossa habilidade geral de nos orientarmos (GA20, 319; SZ, 108). Direita e esquerda dependem de nossos corpos. Coisas que se movem junto com nossos corpos, luvas e sapatos, são orientadas para a direita e para a esquerda, enquanto coisas que movimentamos com nossos corpos, martelos, não são (GA20, 320s; SZ, 108s). (Isto não é invariavelmente verdadeiro. Anéis não são orientados para a direita e para a esquerda; tacos de golfe são.) Mas a orientação depende não do “mero sentimento da diferença entre meus dois lados” (como Kant em OP), mas também do ser-no-mundo: se entro em um quarto familiar mas escuro, cujo conteúdo foi em minha ausência completamente revertido ao longo do eixo direita-esquerda, não saberei detectar nenhuma diferença a não ser que localize um objeto familiar e compare sua posição atual com a que guardo na memória. Minha desorientação atual pressupõe uma anterior orientação em um mundo de instrumentos correlacionados (GA20, 321; SZ, 109s). (Por que o quarto precisa estar escuro?) Ao contrário de nós, uma abelha não acha o caminho de casa por meio da orientação: “Estritamente, só há orientação onde o espaço é aberto enquanto tal e, assim, onde se dá a possibilidade de distinguir regiões e locais determináveis nas regiões” (GA29, 354). (DH)