Phänomen, phénomène, fenómeno, phenomenon, phainomenon, phainomena, phénomènes, phenomena
Usualmente entendemos por fenômeno algo ou alguém, cujo ser ou atuação aparece num aspecto extraordinário. A esse aspecto, gostamos de chamar de fantástico1. Nas palavras fenômeno e fantástico aparece o verbo grego phainesthai que significa aparecer. Aparecer é mostrar-se, vir à luz.
É comum, representar o aparecer como movimento de algo que estava escondido, atrás ou dentro de uma outra coisa, dela sair e vir para frente ou para fora.
O aparecer do fenômeno, no entanto, não diz respeito ao relacionamento entre duas coisas: entre a fachada e o que se oculta atrás dela. Refere-se antes à auto-apresentação ou auto-presentação ou à intensificação de uma presença. Nesse sentido, é algo como luzir, incandescer. É tomar corpo, crescer no sentido da expressão cresça e apareça. É, pois surgir, crescer e se consumar, vindo a si, tornando-se presença. (…)
O verbo do qual deriva a expressão fenômeno é medial. Como em português não há a forma medial, phainomenon é traduzido ou no sentido passivo ou reflexivo: o mostrado, ou o que se mostra ou o em se mostrando. O modo de ser da ação do verbo medial não é nem ativo nem passivo. Não seria, porém, um meio termo, uma mistura meio a meio, neutra. Seria, antes, uma dinâmica toda própria, um medium atuante, anterior à divisão em disjunção ativa e passiva. Usualmente, quando falamos de ação e atuação, representamos alguém ou algo causando uma força sobre alguém ou algo. Assim quem causa uma ação e a própria força atuante são ativas; quem ou o que recebe, padece ou sofre a ação, é passivo. Quando quem age (o ativo) atua sobre si mesmo (o passivo), se dá o reflexivo: o agente é ao mesmo tempo o paciente, mas, aqui, o agente enquanto ativo e o paciente enquanto passivo não coincidem. Aqui o ser da iteração entre ativo e passivo e reflexivo é de tal feitio que é sempre unidirecional, uma linha reta a modo de flecha. O modo de ser da ação do verbo medial não pode ser captado, reduzindo-o à (52) unidirecionalidade da flecha na iteração ativo-passivo-reflexivo, mas captando-o, vendo-o a ele mesmo, de imediato. O que ali aparece de imediato é o que está dito na expressão: fenômeno, i.é, o em se mostrando a ele mesmo, o aberto. Outros modos de dizer esse imediato são: em vindo ao dia, à luz, em colocando-se às claras, em aparecendo ou aparente, em se abrindo, mostrando-se,43 O abuso do gerúndio, na forma em <...>ndo é de propósito. Tenta insistir na consideração de que é necessário captar esse modo de ser da ação medial sui generis nele mesmo. Esse captar imediato de ser da ação medial seria muito simples, por ser imediato e imediato, por ser simples. Só que o imediato e o simples não podem ser percebidos no seu ser, a não ser que a percepção ou melhor a recepção seja imediata e simples, a saber, pele a pele, de todo em todo, cada vez de uma vez. O modo medial de ser ação pede a captação imediata da realidade, antes da sua divisão e classificação em sujeito, objeto, ato, em ativo, passivo e reflexivo de tal sorte que a ação ou ato é ‘anterior’ ao sujeito e objeto, é a dinâmica do todo, em sendo.2 Ademais, aqui, o que nos pode dificultar a perceber de que se trata, é a conotação que todas essas expressões trazem consigo de visualização.3 Aparecer, mostrar-se à luz, vir à claridade do dia, no entanto, não tem primariamente muito a ver com visualização. Aperceber o manifesto, o mostrado, a recepção do que é em se mostrando a ele mesmo, é anterior a toda e qualquer visualização. Visualização é a maneira projetiva da objetivação interpelativa, pela qual colocamos o fenômeno dentro de uma determinada perspectiva do inter-esse de um ponto de vista. (HARADA, Hermógenes. Introdução à Filosofia. Exercícios, ensaios e anotações de um principante amador. Teresópolis: Daimon, 2009, p. 51-53)
VIDE: (Phänomen e derivados->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=feno)
fenômeno
phénomène
phenomenon
fenómeno
NT: ne pas confondre Erscheinung (EtreTemps)
NT: Phenomenon (Phänomen), 28-31 (§ 7a), 34-37, 58-68, 131-134, 153-156, 158-162, 179-185, 188-191, 248-250, 268-271, 289-292, 302-305, 316-318, 359-360, 433, et passim (BT)
Phänomen (das): «fenómeno». La transformación hermenéutica de la fenomenología emprendida por el joven Heidegger en el semestre de posguerra de 1919 disocia el término «fenómeno» de la percepción y el conocimiento teorético, con lo que se abre la posibilidad de una interpretación en términos ontológicos. El fenómeno no se da exclusivamente en la conciencia, sino que es una manifestación del ser. Asimismo, hay que distinguir entre el fenómeno tal como se muestra y la apariencia que lo oculta. El fenómeno, por tanto, es un modo distintivo de comparecencia. Heidegger ya expresa en su tesis de habilitación un fervoroso interés fenomenológico por el modo de acceder a la realidad a través de la simplex apprehensio, si bien el primer tratamiento formal del fenómeno se produce en 1920-1921 para distinguirlo de los confusos conceptos de Objekt y Gegenstand. Las primeras tentativas de una aproximación etimológica al término Phänomen tienen lugar en el semestre de verano de 1923, así como en las lecciones del semestre de invierno de 1923-1924, Introducción a la investigation fenomenológica, en el contexto de una profunda révision crítica de Descartes y Husserl. El análisis fenomenológico completo del concepto «fenomenología» se lleva a cabo en las lecciones del semestre de verano de 1925, que reaparece condensado en el parágrafo 7 de Ser y Tiempo. Véanse también las entradas Gegenstand (der), Gegenständlichkeit (die) y Schein (der). (GA58, pp. 50-52; AKJ p. 22; GA60, pp. 11, 20, 35, 36, 63, 83 (realización), 97, 131 (sentido), 214; GA63, pp. 67-77, 71, 76; GA17, pp. 1-2, 6-9 (ver), 10-13 (mostrarse), 38-41 (apariencia), 41-46, 70 (objeto), 111; GA20, pp. 26, 111-115, 117 (el como del mostrarse), 118, 344; SZ, pp. 28-31.) (LHDF)
Phänomen (phenomenon) – Already in the habilitation, the young Heidegger expresses a strong phenomenological commitment, by later standards bordering on the naive, to the self-showing of the articulations of reality accessible through simplex apprehensio, and thus directly readable from the “facticities” themselves (FS 155). But it is only with the introduction of the triple context of surrounding worlds in WS 1919-20, understood as contexts of manifestation (Bekundung) or a “somehow” of expression, that “phenomenon” itself is first thematized. “Everything that we encounter in life expresses itself, puts itself forward, appears, in short, is a phenomenon.” In his treatment of the formal indication in WS 1920-21, Heidegger first distinguishes phenomenon from the less comprehensive Objekt and “counterstance” (Gegenstand), and then notes that the “internal word” or logos which gives itself in the phenomenon is accessible only through the formal indication of intentionality in its triple-sensed totality, where the senses of relation and actualization supersede that of objective content. The first glimmers of the Greek etymological approach to phenomenology occur in GA63 (GA63:67), where the problem of the inherent self-concealing of self-showing phenomena is also broached (76). The etymological analysis of phenomenology is first fully carried out in the following semester and, shortly thereafter, the three modes of concealing with which phenomenology must contend (cf. “Verborgenheit” below), on the basis of which phenomenology is then fully defined in GA20 (GA20, § 9) and in BT (SZ, §7). (Kisiel)
Ce sous-paragraphe 7A (SZ) est à juste titre réputé difficile. La première difficulté tient au lieu de la méthode, à l’« impensé » de l’exposition, impensé selon lequel Heidegger ne reconduit pas les phénomènes à des actes de conscience, impensé selon lequel le phénomène est un perçu-vécu, et cela quel qu’en soit le mode, par une conscience, et qui plus est, compte tenu des distinctions qui vont être apportées, par une conscience qui questionne ; autrement dit, il n’y a pour Heidegger de phénomène que pour le Dasein, pour l’homme. D’une certaine manière, nous ne sortons pas du cercle. La seconde difficulté, la plus irrémédiable, et dont le caractère aporétique, s’il apparaît immédiatement à la traduction, ne lui est pas inhérent, tient à un second « impensé », lequel s’apparente au premier, à savoir le « dédoublement » de ce qui se montre. Tout le raisonnement est construit comme s’il s’agissait d’analyser les actes d’un agent, ce que l’usage des participes présents et des formes pronominales (par exemple le ‘se-montrant’), ainsi que celui des expressions mises en équivalence (en l’occurrence, ce qui se montre), semblent à chaque fois exprimer. On a peine alors à distinguer, dans le phénomène et ses avatars (apparence et apparition), ce qui est perçu par le Dasein, lequel perçu doit coïncider avec ce qui se montre (le ‘se-montrer’ en acte) et avec la source (est-elle un étant ou un caractère d’être de l’étant ?) de l’acte de se montrer, source sous-entendue par le ‘lui-même’ de l’expression : se-montrant en lui- même (et non ‘en soi-même’, comme le traduit E. Martineau, et encore moins ‘par soi-même’, comme le traduit F. Vezin). C’est en quelque sorte un étant conforme à ce qu’est le Dasein qui est à la fois sujet et objet de la phénoménologie non courante. Je laisse aux spécialistes de la question le soin d’éclairer le lecteur curieux d’approfondir. (Auxenfants; ETJA:§7)
E interessante talvez observar que para nós hoje, o fenômeno é entendido como que à luz da ribalta, no esplendor de um show ou na publicidade! ↩
O verbo ser que soa tão neutro, sem atuação, indique talvez esse modo todo próprio da vigência originária da auto-presença pré-predicativa ou pré-científica. ↩
Distinguimos visualizar e ver. Visualizar conota em vista de um ponto predeterminado, como meta, objetivo, como a priori prefixado, a partir e dentro do projeto prévio, em cuja predeterminação são captadas todas as coisas. ↩