wesen: essenciar-se, estar-a-ser
Abwesen (s) / Abwesende (s): o-estar-ausente, ausência / o-que-está-ausente
anwesen / Anwesen (s): vir-à-presença, estar-presente / o-estar-presente, o vir-à-presença
anwesend / Anwesende (s): presente, que está presente / o que-está-presente, o que-vem-à-presença
Anwesenheit (e): presença, estar-em-presença (cf. Präsenz)
Gewesene (s) / Ge-wesene (s): o sido, aquilo que foi / o sido, o já essenciado
Wesen (s) / Unwesen (s): essência, estar-a-ser, ser / anti-essência, abuso da essência, in-essência
Wesende (s): o-que-se-essencia, o que-está-a-ser
Wesenheit (e): essencialidade
Wesensblick (r): o olhar-que-vê-a-essência (GA5BD)
l’aître de l’être humain – das Menschenwesen –, son séjour et sa demeure (avec ses feux et lieux, ses Lares et ses Pénates) (LDMH)
Afastando-se desta dupla tradição tão antiga como o Ocidente, mas religando-se a ela pelo método da desconstrução, a analítica do Dasein como «ser-no-mundo» (In-der-Welt-sein) introduz, em primeiro lugar, a possibilidade extraordinariamente inovadora e fecunda de uma essência unitária do homem (Mensch), desembaraçado dos seus antigos conflitos. Por certo aparece uma nova dualidade, a do autêntico (Eigentlichkeit) e do inautêntico (Uneingtlichkeit), do próprio (eigen) e do não-próprio (uneigen), de Si mesmo (Selbst) e da gente (das Man). Mas ela exclui a mistura da essência humana com o ser natural. Porquanto a questão da pertença do homem à natureza (Natur) não seja suprimida, ela transforma-se na da «facticidade» (Faktizität). Deste modo, a fenomenologia do Dasein só reencontra marginalmente o corpo (Leib) como um limite do «mundo» (Welt) ou, paralelamente, como a mão (Hand), capaz de manipular os instrumentos (Zeug) «ao-alcance-da-mão» (Zuhandenheit) ou de não intervir, deixando os entes simplesmente subsistir, literalmente «à-mão» (segundo a tradução de Didier Franck, em Heidegger et le problème de l’espace, ed. de Minuit, 1986, por ex., p. 54) (Vorhandenheit). O corpo humano é extirpado de qualquer definição puramente biológica, vital, animal, pois a análise revela-o como já estando sempre inserido e reentrado numa Stimmung, uma tonalidade afectiva que o produz, o transporta para fora de si para uma situação, o penetra de transcendência (Transzendence). Como dirá mais tarde Heidegger: «o corpo do homem é qualquer coisa de essencialmente diferente de um organismo animal» (Q. III (Q34), p. 91 (sublinhado nosso); Wm. (GA9), p. 322). Ao definir o homem como zoon logon echon, a metafísica definiu-o «zoologicamente», de maneira naturalista e coisista, como homo animalis, falhando a verdadeira essência «ex-istente» do homo humanus. Ela esqueceu, por acréscimo, o sentido original da physis, como surgimento luminoso de presença que contém a palavra zoon, e também o sentido primeiro de logos, como tributo de presença, que a sua tradução por ratio ocultará completamente. (HEH:16-17)
O homem «não tem» uma essência (Wesen) como os outros entes porque se formula a questão: quem sou eu? Isso disse-o toda a tradição. O que Heidegger tenta mostrar é que esta questão reflexiva oculta o acesso ao ser (Sein). Um «outro homem» seria aquele cuja reflexão não subjectiva, em lugar de o redobrar sobre si mesmo, o abriria para a livre dimensão da clareira (Lichtung). Este homem teria todas as coisas — incluindo o seu pensamento (Denken), incluindo ele próprio, perante ele — lado a lado e não como um objecto (Gegenstand). Deixaria de reflectir sobre si mesmo para passar a reflectir sobre o mundo. Mas, nesse caso, seria ele ainda um homem (Mensch)? (HEH:24)