Kehre

Kehre, turning, giro, virada, viragem

The term die Kehre – “the turn” – has an over-determined and complex history in Heidegger’s work and has led to major misunderstandings of his project. As Heidegger clearly says in Contributions to Philosophy (GA 65 = CP), the turn is simply the bond between Dasein and Sein. Therefore, the turn in its basic and proper sense is the central topic of Heidegger’s thought. It is not, as many think, the 1930s shift in Heidegger’s approach to his central topic. The Kehre in its basic and proper sense never “took place”, least of all in Heidegger’s thinking.

I shall distinguish three meanings of “the turn”: (i) the basic and proper sense – the bond between Dasein and Sein; (ii) the 1930s shift in how Heidegger treated that bond; and (iii) the act of resolve as a transformation in one’s relation to that bond. (HDHP)


Première occurrence du terme cardinal die Kehre (GA65:§8). Trois fois déjà, on a pu lire (pp. 21, 33 et 35) sa forme adjective (kehrig). Die Kehre est l’un des mots auxquels Heidegger a recours pour saisir l’un des aspects les plus essentiels et les plus difficiles de sa pensée. C’est pourquoi il est si important d’en aborder la traduction avec la plus grande attention. Ce substantif féminin est formé sur le verbe kehren, dont l’acception première est celle du verbe grec τρέπω : je tourne, ou mieux encore : je fais tourner. Il faut souligner que Kehre garde toute la force de son aspect verbal. Proposer « volte-face » pour rendre Kehre demande donc que soit gardée l’acception de la locution française. Car elle ne doit pas, ici, être prise dans son sens courant (le retournement brusque, par exemple d’une opinion). C’est le verbe voller qu’il importe d’y entendre parler, ce verbe qui était autrefois d’usage très commun, désignant justement tous les mouvements de virage (où quelque chose tourne). C’est pourquoi, ici, alors que le terme apparaît pour la première fois, et dans la formulation très explicite de « der… Wendungspunkt in der Kehre », s’impose de traduire par « un nœud de virages dans cette volte-face ». Insister sur le pluriel des virages, c’est amener à entendre volte comme verbe. Volte-face : mouvement de «volter face», de se tourner face à… (d’être amené à se tourner face à…). Ainsi, volte-face ouvre sur le très complexe rapport qui règne entre avenance (en son essentielle finitude) et être le là – rapport où tout se joue dans la réciprocité des tournements et retournements par lesquels ils se répondent l’un l’autre. (Fédier; nota GA65:§8)


VIDE: (Kehre->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Kehre)

VIDE Umkehrung

“Os verbos wenden, kehren, drehen traduzem ‘virar’ em seu sentido literal de levar para uma outra posição, ao qual certas vezes acrescenta-se a ideia de encarar uma outra direção. (…) Kehren significa, de maneira geral, ‘fazer encarar uma outra direção’, denotando, certas vezes, meramente uma virada parcial. (…) Pode também implicar velocidade, força ou hostilidade. Tem também o sentido de ‘varrer (com uma vassoura)’” (DGS, 359s). Kehrt! é “Meia-volta!” Esta palavra forma diversos compostos: umkehren, “voltar atrás, retraçar os passos” , e sich umkehren, “virar-se imediatamente” ; einkehren, “hospedar-se (p.ex., em uma pousada)” ; bekehren, “converter (p.ex., a uma fé)” ; verkehren, “alterar, inverter, reverter etc.” . O substantivo Kehre, uma “curva, virada” (radical), foi formado a partir deste verbo. Ele também forma compostos: Abkehr, “afastamento, virar para longe” , Ankehr, “aproximação, voltar-se para” , Wiederkehr, “retorno” , como no “eterno retorno/recorrência do mesmo” de Nietzsche (GA6T1, 25 etc.). Heidegger usa com frequência wenden e Wende, “virar, mudar” e “virada, mudança” , como sinônimos de kehre(n).

Em SZ, a existência de Dasein envolve várias “viradas”. Uma disposição de humor “descobre, não ao olhar para o ser-lançado, mas enquanto volta-se para e se afasta” (SZ, 135). Na decadência, Dasein “se afasta de si mesmo” (SZ, 185). A historicidade autêntica “compreende a história como o ‘retorno’ do possível, e sabe que a possibilidade só retorna se a existência lhe estiver aberta, decisivamente e em um instante de visão, na repetição decidida” (SZ, 391s). O homem erra: ele está “voltado para (zugewendet) o imediato acesso aos entes” e “afastado (weggewendet) do mistério”. Este “voltar-se para (Zu- und Weg-wenden) é posterior a uma virada (Wende) peculiar no para lá e para cá de Dasein” (GA9, 193s).

Heidegger usa posteriormente, Kehr, e também palavras com wenden, para uma virada radical em nosso pensamento sobre o ser, verdade etc., e também para uma virada no próprio ser. O mito da caverna de Platão iniciou “uma virada (Wendung) na determinação da essência da verdade” (p, 201/251). Na não realizada terceira seção da primeira parte de SZ, que deveria trazer o título “Tempo e ser” , “ocorre uma total reversão (kehrt sich das Ganze um).”Essa parte “foi suspensa, porque o pensamento falhou em encontrar uma fala adequada à virada (Kehre) (…)” . EV “fornece alguma visão do pensamento da virada de ‘ser e tempo’ para ‘tempo e ser’. Esta virada não é uma alteração do ponto de vista de SZ; na virada, o pensamento que se pretendia alcançar atinge, pela primeira vez, o posicionamento da sua dimensão, a partir da qual SZ se cumpre na experiência básica do esquecimento do ser” (CartaH (GA9), 325. Cf. GA26, 196, 201). “A virada” , die Kehre, é usada sobretudo para denotar uma virada radical no pensamento do próprio Heidegger, supostamente ocorrida entre SZ e CH (GA9). Há certamente grandes diferenças, de estilo e conteúdo, entre SZ e os escritos datados do pós-guerra. Heidegger fala diversas vezes de SZ como uma obra de “transição (Über-gang)”da metafísica para a “questão básica” sobre o ser (GA65, 84, 223, 229,234 etc.). A mudança é, contudo, gradual, não uma Kehre. E o que o próprio Heidegger chama de Kehre em seu pensamento não envolve, como ele mesmo diz, mudança alguma de “ponto de vista” . Ele diz o mesmo de Kant: “a filosofia de Kant é cheia de ‘reviradas’ (’Umkippungen’). Mas não se pode entendê-las pelo método fatal do senso comum, que considera qualquer coisa deste tipo como uma mudança de ponto de vista, i.e. uma comparação entre dois diferentes resultados. Uma revirada genuína, sustentada pela necessidade objetiva, é, pelo contrário, sempre sinal de continuidade interna e apenas se deixa compreender pela compreensão do nexo de problemas que abarca a mudança como um todo. Por isso, no caso de duas proposições opostas, precisamos nos dar ao trabalho de compreender o problema. Só assim podemos ver que não é questão de mudança de ponto de vista” (GA31, 267s).

Uma Kehre ou uma virada envolvem normalmente a inversão de dois termos. “Ser e tempo” transforma-se em “tempo e ser”. A resposta à questão sobre a essência da verdade é: “a essência da verdade é a verdade da essência” (GA9, 198). A inversão transforma os significados de “essência” e “verdade”. Wesen significa primeiramente “essência” no sentido tradicional, mas em sua segunda ocorrência é compreendida “verbalmente”, aproximando-se do “ser como a distinção prevalecente entre ser e entes”. Wahrheit começa como “verdade” no sentido de “correção”, mas toma-se “verdade” no sentido de “abrigo iluminador”. Assim, a “resposta à questão acerca da essência da verdade é o dito de uma virada (die Sage einer Kehre) dentro da história do ser. Já que o abrigo iluminador pertence ao ser, ele aparece primordialmente sob a luz da retirada que encobre” (GA9, 198s 137s Cf. GA65, 288, 415). A virada na história do ser é não apenas a iluminação original do ser pelos gregos, mas um paradoxo inerente ao próprio ser que torna isto possível: “Na virada (Kehre) do acontecimento, o essencializar da verdade é também a verdade do essencializar. E esta mesma tergiversação (Widerwendigkeit) pertence ao ser enquanto tal” (GA65, 258; cf. 189). Heidegger tenta explicar o acontecimento (Ereignis) em função das viradas, inversões, círculos e relações recíprocas, que encontrou inicialmentc cm nosso pensamento: “O acontecimento realiza a sua ocorrência mais íntima e a sua esfera mais ampla na virada. Essencializando no acontecimento, a virada é o solo escondido de todas as outras (204) viradas, ciclos e círculos subordinados — obscuros em sua origem, inquestionados, prontamente tomados como ‘definitivos’ por sua própria conta (cf., p.ex., a virada na estrutura da questão-guia, o círculo da compreensão). O que é esta virada original no acontecimento? Somente a investida (Anfall) do ser enquanto um fazer acontecer o ‘aí’ traz o Da-sein para si mesmo e, assim, para a realização (abrigo) da verdade insistentemente fundamentada dos entes, que encontram seu lugar no encobrimento iluminado do ‘aí’. (…) Se através do acontecimento o Da-sein, como centro aberto da individualidade que fundamenta a verdade, é pela primeira vez lançado para si mesmo e torna-se o si mesmo, Dasein deve por sua vez (wiederum) pertencer ao acontecimento como possibilidade escondida da fundamentação e essencialização do ser” (GA65, 407). Isto faz lembrar uma outra “virada (Kehre); o lançador do projeto (Entwurf) é um lançador lançado, mas primeiramente em e através do lance” (GA65, 259), e também a “recíproca (kehrig)” fundamentação de Da-sein e do acontecimento, a “recíproca (kehrigen)” relação de Dasein e do ser (GA65, 261, 316). A recíproca interação da virada e da sua iniciação de uma nova época na história do ser aproxima-se da dialética de Hegel, mas Heidegger insistentemente rejeita qualquer afinidade com a “dialética” (GA9, 198).

Mais tarde, Heidegger fala de uma Kehre do esquecimento do ser, consumada pela tecnologia, para a “salvaguarda da essência do ser” ou da “verdade do ser” (GA79, 40; 42). Ela será imediata e “abrupta (jah)”. Não pode ser prevista pela extrapolação do presente, visto que este tipo de “caça ao futuro” ocorre dentro da atitude da “representação tecnológico-calculadora” e “aquilo que é meramente tecnológico nunca pode alcançar a essência da tecnologia” (GA79, 45s), o “risco desviante (kehrige)” que precisa vir à luz para que a virada aconteça (GA79, 40). (DH:204-206)