tradução
Quarta Proposição: Os meios que a natureza emprega para promover o desenvolvimento de todas as suas predisposições são o antagonismo na sociedade, na medida em que esta última é, no final, a causa de sua ordem legal.
Aqui eu entendo por ‘antagonismo’ a insociável sociabilidade dos seres humanos, ou seja, sua propensão a entrar na sociedade, que, no entanto, é combinada com uma resistência profunda que ameaça constantemente quebrar a sociedade. A predisposição para isso obviamente está na natureza humana. O ser humano tem uma tendência a se socializar, pois nessa condição ele se sente mais um ser humano, ou seja, sente o desenvolvimento de suas predisposições naturais. Mas ele também tem uma grande propensão a individualizar-se (isolar-se), porque encontra simultaneamente em si a propriedade insociável de querer dirigir tudo para conseguir seu próprio caminho, e, portanto, espera resistência em todos os lugares, porque sabe de si mesmo que é inclinado por seu lado em direção à resistência contra os outros. Agora é essa resistência que desperta todos os poderes do ser humano, o leva a superar sua propensão à indolência e, impulsionado pela ambição, tirania e ganância, a obter para si uma posição entre seus companheiros, a quem ele não suporta, mas também não pode abandonar. Assim acontecem os primeiros verdadeiros passos da crueza em direção à cultura, que realmente consiste no valor social do ser humano; assim, todos os talentos vêm aos poucos a ser desenvolvidos, o gosto é formado, e até, através do progresso da iluminação, um começo é dado em direção ao fundamento de um modo de pensamento que pode, com o tempo, transformar a rude predisposição natural para fazer distinções morais em determinar princípios práticos e, portanto, transformar um acordo patologicamente compelido para formar uma sociedade finalmente em um todo moral. Sem essas qualidades de insociabilidade das quais surge a resistência, que não são de todo amáveis em si mesmas, qualidades que cada um de nós deve necessariamente encontrar em suas pretensões egoístas, todos os talentos teriam, em uma vida pastoral arcadiana de perfeita concordância, contentamento e amor mútuo, permanecem eternamente escondidos em seus germes; seres humanos, de tão boa-índole quanto as ovelhas que cuidavam, dariam à sua existência um valor quase maior do que o de seus animais domesticados; eles não preencheriam o vazio da criação em relação ao seu fim como natureza racional. Graças seja à natureza, portanto, pela incompatibilidade, pela vaidade competitiva rancorosa, pelo desejo insaciável de possuir ou mesmo dominar! Pois sem eles todas as excelentes predisposições naturais da humanidade adormeceriam eternamente sem desenvolvimento. O ser humano deseja concordância; mas a natureza sabe melhor o que é bom para sua espécie: deseja discórdia. Ele deseja viver confortavelmente e contente; mas a natureza deseja que, por preguiça e contentamento inativo, ele se atire ao trabalho e à labuta, de modo que, ao contrário, prudentemente descubra os meios para se retirar novamente deste último. Os incentivos naturais para isso, as fontes de insociabilidade e resistência completa, das quais surgem tantos males, que, no entanto, impelem os seres humanos a novos esforços de seus poderes e, portanto, ao desenvolvimento de suas predisposições naturais, assim denuncia a ordem de um criador sábio; e não a mão de um espírito maligno que poderia ter estragado seu esplêndido empreendimento ou arruinado-o de maneira invejosa.
Fourth Proposition: The means nature employs in order to bring about the development of all their predispositions is their antagonism in society, insofar as the latter is in the end the cause of their lawful order.
Here I understand by ‘antagonism’ the unsociable sociability of human beings, i.e. their propensity to enter into society, which, however, is combined with a thoroughgoing resistance that constantly threatens to break up this society. The predisposition for this obviously lies in human nature. The human being has an inclination to become socialized, since in such a condition he feels himself as more a human being, i.e. feels the development of his natural predispositions. But he also has a great propensity to individualize (isolate) himself, because he simultaneously encounters in himself the unsociable property of willing to direct everything so as to get his own way, and hence expects resistance everywhere because he knows of himself that he is inclined on his side toward resistance against others. Now it is this resistance that awakens all the powers of the human being, brings him to overcome his propensity to indolence, and, driven by ambition, tyranny and greed, to obtain for himself a rank among his fellows, whom he cannot stand, but also cannot leave alone. Thus happen the first true steps from crudity toward culture, which really consists in the social worth of the human being; thus all talents come bit by bit to be developed, taste is formed, and even, through progress in enlightenment, a beginning is made toward the foundation of a mode of thought which can with time transform the rude natural predisposition to make moral distinctions into determinate practical principles and hence transform a pathologically compelled agreement to form a society finally into a moral whole. Without these qualities of unsociability from which the resistance arises, which are not at all amiable in themselves, qualities that each of us must necessarily encounter in his selfish pretensions, all talents would, in an arcadian pastoral life of perfect concord, contentment and mutual love, remain eternally hidden in their germs; human beings, as good-natured as the sheep they tended, would give their existence hardly any greater worth than that of their domesticated beasts; they would not fill the void in creation in regard to their end as rational nature. Thanks be to nature, therefore, for the incompatibility, for the spiteful competitive vanity, for the insatiable desire to possess or even to dominate! For without them all the excellent natural predispositions in humanity would eternally slumber undeveloped. The human being wills concord; but nature knows better what is good for his species: it wills discord. He wills to live comfortably and contentedly; but nature wills that out of sloth and inactive contentment he should throw himself into labor and toils, so as, on the contrary, prudently to find out the means to pull himself again out of the latter. The natural incentives to this, the sources of unsociability and thoroughgoing resistance, from which so many ills arise, which, however, impel human beings to new exertion of their powers and hence to further development of their natural predispositions, thus betray the ordering of a wise creator; and not the hand of an evil spirit who might have bungled his splendid undertaking or ruined it in an envious manner.