Ichheit

Ichheit, Egoitöt, egoidade, Selbstigkeit, egoísmo

O ser próprio do homem (Selbstsein des Menschen) inclui por necessidade, como não-essencial (Unwesen), um modo de ser egoísta (Selbstigkeit) e voltado para si mesmo (Selbstsucht). Isso não coincide de forma alguma com o eu (Ichheit), que constitui a essência da “subjetividade” (Subjektivität), isto é, com a soberania (Souveränität) rebelde do homem moderno. Mas mesmo a essência do ego (Ichheit) não consiste num isolar-se a si mesmo dos outros entes (esta exclusão é chamada de “individualismo” (Individualismus)). Pensada metafisicamente, a essência do ego (Wesen der Ichheit) consiste mais num fazer de todos os outros entes alguma coisa que não pertence a si, ou seja, seu objeto, seu estar além e em contraposição, seu projeto (objeto). A essência da egoidade (Egoitöt) se distingue na experiência de todos os entes como objetivo e como um lançar-se além e contra suas próprias re-presentações (Vor-stellens). Através disso, o ego se volta para a totalidade dos entes (Ganze des Seienden) e a apresenta a si mesmo como algo a ser dominado. Somente no reino essencial da subjetividade torna-se historicamente possível uma época de descobertas cósmicas e conquistas planetárias, pois apenas a subjetividade marca os limites essenciais de uma objetividade incondicionada e faz isso, em última instância, como um clamor do seu querer (Willen). A essência da subjetividade, chamada por egoidade (Egoität) da perceptio e da repraesentatio, é, assim, essencialmente distinta do “egoísmo” (Egoismus) do eu individual e, de acordo com Kant, a essência do ego consiste precisamente no vigor da consciência em geral, como a essência de uma humanidade que se coloca para si mesma. (GA54:203; GA54SMW:197)


De fora, toma-se a egoidade (Ichheit) pela generalização (Verallgemeinerung) posterior e a abstração do que constitui o eu (Abstraktion des Ichhaften) a partir dos “eus” (Ichen) singulares do homem. Sobretudo Descartes pensa, manifestamente, o seu próprio “eu” como pessoa singular (res cogitans como substantia finita). Já Kant pensa a “consciência em geral” (Bewußtsein überhaupt). Somente Descartes, no entanto, pensa também o seu próprio eu singular à luz da egoidade (Ichheit) mesmo que ainda não pro-posta de maneira própria. Essa egoidade já aparece na configuração do certum, da certeza (Gewißheit), que nada mais é do que o asseguramento do que se põe para a re-presentação (Sicherung des Vorgestellten für das Vorstellen). Já impera a referência velada à egoidade assumida como certeza de si mesma e do pro-posto. Somente a partir dessa referência pode-se fazer a experiência do eu singular (einzelne Ich) como tal. Enquanto o si mesmo (Selbst) singularizado e em aperfeiçoamento o homem pode apenas querer a si mesmo à luz da referência a esse eu da vontade de querer (Willens zum Willen), como tal ainda desconhecida. Nenhum eu se dá simplesmente “em si” (an sich), mas, ao contrário, só é “em si” enquanto o que se manifesta “dentro de si” (in sich), ou seja, como egoidade.

Por isso, esta também vigora onde o eu singular nunca chega a se salientar, onde ao invés se retrai no predomínio do social e de outras formas de agregação. Aqui e justamente aqui se oferece a pura dominação do “egoísmo” (Egoismus), a ser pensado metafisicamente e longe da compreensão ingênua do “solipsismo”. (GA7:84-85; GA7CFS:74-75)


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