Quando me represento o deus Júpiter, este deus é um objeto representado, está «presente de uma maneira imanente» no meu ato, tem nele uma «existência mental». Quaisquer outras que sejam as expressões que possamos empregar, uma interpretação estrita revela-las-á errôneas. Represento-me o deus Júpiter quer dizer que tenho um certo vivido de representação, que na minha consciência se efetua a representação-do-deus-Júpiter. Podemos decompor como quisermos, por uma análise descritiva, este vivido intencional, mas não poderemos, naturalmente, encontrar nele alguma coisa como o deus Júpiter; o objeto «imanente», «mental», não pertence, portanto, àquilo que constitui, do ponto de vista descritivo (realmente) o vivido; não é, portanto, a bem dizer, de modo nenhum, imanente nem mental. Também não é, certamente, extra mentem, não existe absolutamente. Mas isto não impede que esta representação-do-deus-Júpiter seja efetivamente realizada, que ela seja um vivido desta ou daquela espécie, uma disposição de espírito de tal maneira determinada que aquele que em si mesmo a experimenta pode dizer, a justo título, que se representa este mítico rei dos deuses, cuja lenda conta tal ou tal coisa. Mas se, por outro lado, o objeto visado existe, a situação não mudou necessariamente, do ponto de vista fenomenológico. Para a consciência, o dado é essencialmente a mesma coisa, quer o objeto representado exista, quer ele seja imaginado e mesmo, talvez absurdo. Não me represento Júpiter de maneira diferente de Bismarck, a Torre de Babel, de maneira diferente da catedral de Colônia, um quiliógono regular, de maneira diferente de um poliedro regular.
Se o que chamamos conteúdos imanentes são antes simples conteúdos intencionais (intencionados), então, pelo contrário, os conteúdos verdadeiramente imanentes, que pertencem à composição real dos vividos intencionais, não são intencionais: constituem o ato, tornam a intenção possível enquanto pontos de apoio necessários, mas não são eles mesmos intencionados, não são os objetos que são representados no ato. Não vejo sensações de cores mas objetos coloridos, não oiço sensações auditivas mas a canção da cantora, etc.
E o que é verdadeiro das representações é-o também dos outros vividos intencionais fundados nelas. Representar-se um objeto, por exemplo o castelo de Berlim, é, dissemos nós, uma espécie de disposição de espírito determinada descritivamente desta ou daquela maneira. Formular um juízo sobre este castelo, ter prazer com a sua beleza arquitetônica ou ter o desejo de o poder fazer, etc., são vividos novos, caracterizados fenomenologicamente de maneira nova. Têm todos em comum o serem modos da intenção objetiva que não podemos exprimir na linguagem normal senão dizendo que o castelo é percepcionado, imaginado, representado em imagem, julgado, que é objeto de tal alegria, de tal desejo, etc.