O termo utilizado por Heidegger para designar estes “caminhos da floresta” é o mesmo que intitulará uma de suas obras mais centrais: GA5. Um Holzweg possui uma peculiaridade própria: ele não é um caminho (Weg) que leva os homens para fora da floresta, mas sim um caminho que sempre termina em uma brusca interrupção de si mesmo no interior da floresta. Heidegger vale-se deste campo semântico para descrever o sentido de sua própria filosofia. Uma filosofia que não nos conduz simplesmente para fora da coisa mesma, mas que se insere cada vez mais intensamente no modo de realização desta última. Há, portanto, uma certa dubiedade na passagem. Os desvios são, por um lado, realmente negativos, uma vez que nos afastam da tarefa de considerar a metafísica a partir dela mesma; eles possuem, por outro, uma certa positividade, à medida que através deles experimentamos a necessidade de uma tal consideração. (Casanova)
Para um autor que, ao conceber o rumo da sua Edição integral (VIII), a caracterizou com o lema Wege, nicht Werke (caminhos, não obras), e que, ao longo da sua produção, dedicou amplas passagens a tematização do “caminho” e do “estar a caminho” – como sentido profundo daquilo a que a tradição, interpretando o ὁδός grego, chamou método – a escolha desta palavra composta não foi, decerto, inócua. O caminhar internando-se na floresta, como o faria um lenhador, é, sem dúvida, metáfora do que os seis textos incluídos neste volume procuram dizer, pelo que, para acentuar esse vínculo, se preferiu, neste caso, uma imersão literal: Caminhos de floresta (veja-se a explicitação heideggeriana do título, pág.3 (IV)). Com isso, oculta-se, porém, um matiz, que o termo alemão evoca imediatamente: auf dem Holzweg sein significa – como em português “meter-se por atalhos” – enganar-se, enveredar por mau caminho, perder-se. A floresta não é, no seu sentido próprio, um mero arvoredo, que a mão do homem pudesse ter plantado. Não é um parque. É selva e mato, natureza em estado puro, selvagem. Os caminhos do mato, estreitos e sinuosos, mais que atravessá-lo, levam quem o tenta fazer a descobri-lo como tal, embrenhando-se no seu interior sem saída. “Perder-se” por esses caminhos ê, pois, encontrar a floresta, encontrar-se nela. (Borges-Duarte GA5)