“Na última e suprema instância não há nenhum outro ser, senão o querer. Querer é ser primordial, e a isto apenas (ou seja, o querer) ajustam-se todos os predicados do mesmo (ou seja, do ser primordial): profundidade insondável, eternidade, independência do tempo, auto-afirmação. Toda a filosofia apenas aspira no sentido de encontrar essa expressão máxima” (WW.Abt.I, Bd VII, 350 Ende).
Schelling encontra no querer os predicados que o pensar da metafísica desde tempos remotos atribui ao ser conforme a sua figura última e, por consequência, suprema. A vontade desse querer, entretanto, não é aqui entendida como faculdade da alma humana, mas a palavra “querer” denomina aqui o ser do ente no seu todo. Cada ente e o ente no seu todo têm a faculdade da sua essência na vontade e por intermédio da vontade. Isso nos soa estranho; mantém-se também estranho, enquanto os pensamentos essenciais e simples da metafísica ocidental permanecerem estranhos para nós, isto é, enquanto não pensarmos os pensamentos, mas sempre apenas os relatarmos. Pode-se, por exemplo, constatar com a máxima exatidão os enunciados de Leibnitz sobre o ser do ente e, ao mesmo tempo, não reconhecer o mínimo do que ele pensou quando definiu o ser do ente a partir da mônada, e esta enquanto unidade de perceptio e appetitus, enquanto unidade de representar e desejar [Anstreben]. O que Leibnitz aqui pensa vem à fala em Kant e Fichte enquanto vontade da razão, ao que Hegel e Schelling seguem pensando, cada um por seu caminho. Schopenhauer denomina e quer dizer o Mesmo quando pensa o mundo como vontade e representação; o Mesmo pensa Nietzsche, quando ele define o ser primordial de ente enquanto vontade de poder. O fato de que aqui sem exceção o ser do ente em toda parte aparece enquanto querer não consiste em opiniões que alguns filósofos formem para si sobre o ser. O que esse aparecer do ser enquanto vontade significa, isso não se consegue descobrir por nenhuma erudição. Apenas permite que se indague sobre si por meio de um pensar e apenas pensando se dignifique em sua problematicidade [Fragwurdigkeit], e isso quer dizer conservar [bewahrert] na memória [Gedächtnis] enquanto algo pensado [Gedachtes],
O ser do ente aparece para a metafísica moderna como vontade. Contudo na medida em que o homem, conforme sua essência como animal pensante, é relacionado ao modo da representação com o ente em seu ser e, desse modo, com este último, sendo por causa disso determinado a partir do ser, deve, então, o ser-homem aparecer acentuadamente como um querer de acordo com essa relação do ser (isso é, agora, da vontade) com a essência do homem. (SCHNEIDER, Paulo Rudi. O Outro Pensar. Sobre Que significa pensar? e A época da imagem do mundo de Heidegger. Ijuís: Unijuí, 2005, p. 54-55)