A distinção do símbolo frente ao sinal, que o conduz à proximidade do quadro, está à mão. A função de representação do símbolo não é a de uma mera referência a algo não-presente. Mais do que isso, o símbolo deixa sobressair como presente, algo que, no fundo, está sempre presente. Isso já se mostra no sentido original do “símbolo”. Se denominarmos de “símbolo” o sinal de reconhecimento entre amigos afastados ou membros espalhados de uma comunidade religiosa, no qual demonstra-se uma pertença comum, um tal símbolo terá, certamente, a função de sinal. No entanto, é mais do que um sinal. Não somente indica uma pertença comum, mas demonstra-a e torna-a visível. A “tessera hospitalis” é um resto de uma vida vivida outrora e, através de sua existência, testemunha aquilo que indica, isto é, permite que o próprio passado se torne presente e que seja reconhecido como válido. Com tanto mais razão isso (159) vale para os símbolos religiosos, pois não funcionam somente como distintivos, mas que é o sentido desses símbolos que é entendido por todos, vincula a todos, vincula a todos e por isso pode assumir também uma função de sinal. O que vem a ser simbolizado estará, portanto, necessitando certamente da representação, na medida em que ele próprio é não-sensorial, infinito e não-representável, mas é capaz de sê-lo. Pois, só pelo fato de ele mesmo estar presente, pode se fazer presente no símbolo.
Portanto, um símbolo não somente referencia, mas representa, enquanto faz as vezes de outro (vertritt). Fazer as vezes de outro, porém, significa deixar que se torne presente algo que não estava presente. É assim que o símbolo faz as vezes de, na medida em que represente, ou seja, deixa algo tornar-se imediatamente presente. Somente porque o símbolo representa dessa maneira a presença daquilo que ele faz as vezes, a honra que é própria àquilo que é simbolizado por ele será prestada a ele mesmo. Símbolos como o símbolo religioso, a bandeira, o uniforme, assumem a suplência daquilo que é honrado, de tal modo, que ele se faz presente neles.
O fato de que, aqui, o conceito da representação tem seu lugar originário, que acima utilizamos para a caracterização do quadro, mostra a proximidade objetiva que existe entre a representação no quadro e a função de representação do símbolo. Seja como for, um quadro, como tal, não é um símbolo. Não somente porque os símbolos não precisam ser plásticos: Eles realizam sua função de fazer as vezes de, através de sua pura existência e do seu mostrar-se, mas de si mesmos não dizem nada sobre o simbolizado. Temos de conhecê-los, tal como temos de conhecer um sinal, se quisermos seguir sua referência. Nesse sentido, eles não significam nenhum crescimento de ser para o representado. É verdade que pertence ao ser do representado, deixar-se fazer presente, dessa maneira, nos símbolos. Mas através do fato de que os símbolos estão aí e são mostrados, não há, do ponto de vista do conteúdo, uma determinação continuada do ser do próprio representado. Ele já não está mais presente quando eles estão presentes. São meros suplentes. É por isso que não importa, de forma alguma, o seu próprio significado, mesmo que eles tenham um significado. São representantes e concebem sua função representativa de ser daquilo que devem representar. [Gadamer Verdade e Método I]