Gadamer (VM): arte vivencial

O conceito da arte vivencial contém uma ambiguidade característica. A arte vivencial significa, em princípio e abertamente, que a arte origina-se da vivência e dela é expressão. Num sentido derivado, o conceito da arte vivencial é então utilizado também para aquela arte que se destina à vivência estética. É evidente que ambas se inter-relacionam. O que tem sua determinação de ser no fato de ser expressão de uma vivência, não poderá ser entendido, no seu significado, a não ser através de uma vivência.

O conceito da “arte vivencial”, como quase sempre se dá nesses casos, foi cunhado a partir da experiência do limite, que se coloca à sua pretensão. O conceito da arte vivencial somente se torna consciente na sua circunscrição, quando deixa de ser autoevidente que uma obra de arte represente uma transposição de vivências, e quando já não é autoevidente que essa transposição se deve à vivência de uma inspiração genial que, com a segurança de um sonâmbulo, cria a obra de arte que, por sua vez, converter-se-á numa vivência para aquele que a recebe. Para nós, o século caracterizado pela autoevidência desses pressupostos é o de Goethe, um século que é toda uma era, uma época. Somente porque para nós já está encerrado, e porque isso nos permite ver além de seus limites, podemos vê-lo nos seus limites e para isso temos um conceito. [Gadamer Verdade e Método I]