Ethik, Éthique, Ética, Ethics, éthique, ética, ethics
Heidegger convida a retornar de toda interrogação sobre a ética (e a fortiori de toda vontade de prescrever e de castigar) a uma meditação do “elemento inicial” onde se mantém o homem em sua eksistência (GA9, 365): la verdade do ser, cuja guarda é a “ética tomada à fonte” (die ursprüngliche Ethik). Já em Ser e Tempo sete parágrafos consideram o que a língua corrente denomina “consciência moral”; eles formam não uma espécie de “ética existencial”, mas o momento de um aprofundamento decisivo disto que abre e mantém o modo de existir deste ente que somos, cuja singularidade é que ele é aberto em uma entente do ser. O que se mantém por trás da palavra usada de ética — o fato que, para nós outros homens, isto que temos de ser seja sem cessar em questão — é neste sentido no coração da questão do sentido do ser que coloca Ser e Tempo. (Guillaume Badoual, LDMH)
Commentaire de Jean Greisch suite à ce renversement, classique chez Heidegger, entre les conditions de possibilité : « Avec cette déclaration assurément capitale, la morale quitte la scène de l’analytique existentiale comme candidate au titre de philosophie première.
Quoi qu’il en soit de son importance, elle ne définit pas ce qu’il y a de plus fondamental. Et on peut regretter avec Paul Ricœur (Soi-même comme un autre, page 403) qu’après avoir établi le primat de l’ontologie par rapport à l’éthique, Heidegger ne se soit pas donné la peine de montrer comment on pourrait parcourir le chemin inverse : de l’ontologie vers l’éthique. Heidegger n’ignore pas la difficulté de sa propre thèse qui bute contre le fait que la bonne et la mauvaise conscience sont des phénomènes bien attestés par notre expérience intime. Il semble difficile de prétendre la même chose de l’‘être-obligé’, qui nous arrache à la sphère du savoir, fût-il intérieur. De nouveau nous sommes invités à effectuer le difficile passage d’une phénoménologie de l’apparent à une phénoménologie de l’inapparent. Le phénomène apparent : l’appel comme rappel incitatif (bonne et mauvaise conscience, remords, etc.). Le phénomène inapparent : l’‘être-obligé’. » (GreischOT, pages 295-296) (Auxenfants; ETJA§58)
LÉXICO: (Ethik->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Ethik)
éthique
ethics
O silêncio de Heidegger sobre a ética não deve ser encarado como esquecimento nem desprezo. Em Ser e Tempo, sete parágrafos contemplam o que a língua corrente nomeia «consciência moral»; eles formam em verdade, não uma espécie de «ética existencial», mas o momento de um aprofundamento decisivo daquilo que abre e mantém o modo de existir deste ente que somos, cuja singularidade é que ele está aberto em uma entente do ser. O que se mantém por detrás da palavra usada de ética — o fato que, para nós homens, o que nós temos a ser esteja sem cessar em questão — está neste sentido no coração da questão do sentido do ser que coloca Ser e Tempo mas de tal sorte que ela deixa para trás, de maneira tão radical quanto silenciosa, toda distinção entre ontologia e ética.
Nada nesta passagem essencial de Ser e Tempo, não descreve nem não prescreve uma «regra» moral, uma «legislação ética». É ao contrário totalmente tencionado no esforço, perfeitamente consciente, de lutar contra a tentação de formular tais regras a fim de ganhar uma compreensão verdadeira disto cujas regras morais não são senão a recaída. Certamente a vida cotidiana tem necessidade de contar com regras, tácitas ou explícitas, pelas quais sabemos a que nos ater quanto ao que reclama de cada um de nós o curso das preocupações comuns. Mas o afazer cotidiano ao mesmo tempo traduz e oculta necessariamente aquilo que porta a vida factiva do homem: a possibilidade de se manter em uma relação absolutamente própria ao que aqui e agora, se abre na modalidade de um presente único. Ora a «fina divisória» pela qual esta possibilidade está recoberta, se encontra de fato atravessada — e ao mesmo tempo tornada sensível — quando ressoa o que Heidegger denomina, em se apoiando sobre as maneiras de dizer correntes, o apelo (Ruf) da consciência moral. É tentador reconduzir esta voz a uma instância superior, ou dito de outro modo a um mandamento; ou, inversamente, de não ver aí senão uma imagem e de «desmistificar» toda crença em uma tal instância superior. Mas o apelo é direta e concretamente ouvido: pois o que fala nele «é ontologicamente de uma outra natureza que o ente aí-diante» (SereTempo), diz Heidegger: é nossa existência ela mesma, tal qual não cessa de se explicitar em se dizendo a ela mesma aquilo de que se trata e de se ouvir a si mesma através desta palavra. É esta entente que se encontra subitamente reunida em uma só e única intimação, a qual se impõe, a respeito da perpétua falação onde cada um está consigo mesmo (do «ruído das intenções confusas e dos projetos abrotados», diz B. Pasternak), como silêncio. Neste silêncio, diz Heidegger, é experimentado factivamente um essencial «ser-em-falta». Este ser-em-falta não pode ser compreendido como infração a uma regra prévia; é ao inverso a partir dele que a fidelidade a uma regra e a falta podem se compreender. Talvez o movimento mais apto a oferecer fielmente esta prova da falta é aquele que nos vê tomar pé, antes que não seja muito tarde, diante daquilo que temos súbita consciência de ter negligenciado. Nossa existência é então posta em estado de se recompôr ao redor daquele que lhe é o mais próprio: a possibilidade de estar inteiramente presentes a isto que a mantém e a abre a si mesmo e que, desde então, nos liga (dito de outro modo nos obriga) demandando ser guardado a salvo. Neste sentido o que apela e o que é interpelado é essencialmente o mesmo: o ser o aí (Dasein) que porta, tanto em outro quanto em nós, toda possibilidade de ser humanamente.
Estamos habituados, desde Kant, a fazer da dignidade da pessoa humana a base de toda obrigação ética. Em Heidegger, a partir de Ser e Tempo, o apelo a compreender o ser humano não é a partir de uma noção geral do humano mas do que é mais radicalmente nosso que toda humanidade: a abertura do aí onde se desdobra o mundo, cujo encontro sempre novo faz a existência a cada vez singular de cada homem. A dignidade humana não tem sentido snão aí onde é mantida e salvaguardada em sua integridade esta possibilidade que o mundo se desdobre em uma estadia (ethos). (Fédier)
NT: Ethics (Ethik), 16, 291 n. 10 (Scheler) 294, 316, 320-321 n. 19 (Scheler), 402 (Yorck). See also Presence, constant (BT)