Hoje, a identidade parece tão óbvia que não tê-la, ou nada saber dela, só poderia ser coisa de um tolo ou de um cabeça de vento. O desvio pela análise das palavras é talvez o atalho mais seguro para começar a desenhar uma primeira configuração da identidade e da nação. Um dicionário inteligente como o Robert desvela em algumas linhas a dupla significação daquilo que a palavra “identidade” recobre, como equivalente da “mesma coisa” ou de “mesmidade”, de modo mais abstrato.
A primeira significação é de jurisprudência e de direito: ela conduz ao objeto material chamado “carteira de identidade” em certas províncias da Europa. Ao passo que o segundo valor semântico evoca a consciência que uma pessoa tem de si mesma, o que é ser si mesmo, em suma, o sentimento de identidade pessoal de um indivíduo contemporâneo, pressionado no dia a dia a cultivar a identidade do mais “personalizado” si.
Não é indispensável ter nascido antes da Segunda Guerra mundial para saber o que quer dizer a interpelação “seus documentos!”, na Europa, com ou sem fronteiras nacionais. “Identidade” remete, insiste o Robert , ao reconhecimento de uma pessoa que foi presa, de um prisioneiro foragido, de um cadáver… É uma palavra técnica da medicina legal entre o vivo e o morto, entre “ser identificado” e, por exemplo, se identificar consigo mesmo ou com um outro, ou mesmo com outra coisa ainda por vir, quem sabe? É bom para o vivo não esquecer que há “identidade” quando um esqueleto é submetido ao exame dos serviços da polícia judiciária para saber se ele é mesmo o de tal indivíduo, distinto de todos os outros.
Nesse estágio da investigação, não há necessidade alguma de levantar os indícios que permitiriam saber que consciência essa “pessoa” teve de si mesma. A identidade física submetida à identificação nos parece brutal e grosseira; ela é, no entanto, primeira e fundamental, quaisquer que sejam as sofisticações tecnológicas. É ela que faz lei quando se trata de estabelecer o que chamamos “nacionalidade”, seja esta ou não uma componente da “pessoa”.
Ocorre com a “nação” o mesmo que com a identidade. É uma ideia ao mesmo tempo simples e rica em redobres, em arranjos de dobras. Nação se origina em nascer e nascimento, o que exige um lugar e um agente criador. O Indígena e o Nativo fazem eco ao Autóctone, assim como família, raça e linhagem se declinam entre si. Em concorrência com gente e raça, nação designa um conjunto de seres humanos caracterizado por uma comunidade de origem, de língua e de cultura.