Daseinsanalyse

Daseinsanalyse, Daseinsanálise, daseinsanalítica

Todavia, como é que uma daseinsanálise, que se articula dessa maneira com a psicanálise, se mantém em contato com Heidegger? Não se está tentando empreender aqui um espacate impossível, se é que Heidegger deve permanecer o mentor filosófico mais importante? O filósofo Ernst Tugendhat, graças a cuja lúcida tese de livre docência sobre O conceito de verdade em Husserl e Heidegger eu aprendi há muitos anos a ler Heidegger, caracterizou em 1978 a hermenêutica heideggeriana em Ser e tempo como “uma espécie de psicanálise”. Com isto, Tugendhat aponta para um parentesco entre Freud e a hermenêutica de Heidegger, que facilmente é desconsiderado. Heidegger também parte do fato de que a verdade a ser encontrada se acha primariamente velada e de que, por isto, é preciso questionar criticamente os fenômenos. Essa concordância no método, porém, só é possível, porque as imagens de homem de Freud e Heidegger convergem em um ponto decisivo. Os dois comprovam que há no homem (15) uma inclinação insuperável para a autoilusão, e os dois fundamentam essa inclinação com o fato de que o homem estaria sobrecarregado consigo mesmo — mais exatamente, com a sua natureza humana porque ela lhe atribuiría um “peso” pesado demais, do qual ele procuraria se desonerar necessariamente por meio da fuga para a autoilusão e para a autoalienação.

Ora, mas se é possível pensar conjuntamente Heidegger e Freud, ao invés de jogá-los um contra o outro, então a daseinsanálise pode ser compreendida — com uma formulação proveniente de Binswanger — como uma “psicanálise sob pontos de vista daseinsanalíticos”. Na medida em que os pontos de vista, que eu sugiro aqui, são de um tipo filosófico, não se precisa temer, que a filosofia venha a perder por conta da vinculação da daseinsanálise à psicanálise em significado — o contrário é mesmo o caso. São esses pontos de vista filosóficos que tornam a daseinsanálise uma corrente autônoma no interior da psicanálise. Com eles, a filosofia de juventude de Martin Heidegger obtém um novo significado e até mesmo um peso maior do que em Binswanger e Boss. Seu significado reside, então, justamente na comprovação de que o homem se torna homem justamente pelo fato de ele ter uma relação com o seu próprio ser — e, com isto, na comprovação de que o filosofar pertence à natureza humana, mesmo que seja apenas uma minoria que se ocupa explicitamente com a questão filosófica fundamental: o que significa ser homem?

O acento heideggeriano da natureza filosófica do homem se tornou, para mim, tão central, porque é possível conquistar a partir daí uma interpretação filosófica e não psicogenética do sofrimento psíquico. Com a minha interpretação do sofrimento psíquico como “sofrimento com o próprio ser”, a daseinsanálise ganha em sua ligação com a psicanálise um perfil próprio. (Alice Holzhey-Kunz)


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