Bortoft (2012) – co-pertencimento

A distinção de Heidegger entre co-“pertencer” e “co”-pertencer é útil aqui (GA11). No primeiro caso, o pertencimento é primário e determina o conjunto, enquanto no segundo caso é o conjunto que determina o pertencimento. Assim, no último caso, juntamos as coisas, ou as colocamos juntas, e dizemos que agora elas pertencem uma à outra porque as juntamos. Mas, no caso do co-“pertencimento”, é o contrário. Aqui as coisas já pertencem umas às outras e esse pertencimento determina sua união. Agora podemos começar a perceber a diferença. Pertencer um ao outro é sutil e, se não nos conscientizarmos da maneira como as coisas já co-“pertencem”, podemos tentar fazê-las pertencer ao juntá-las, ou seja, ao impor uma estrutura que as organize. Como isso não será sensível à maneira mais sutil pela qual as coisas já co-“pertencem” umas às outras, a estrutura organizacional que as reúne só pode ser imposta de fora e não ser intrínseca. Por isso, ela é grosseira. A integridade do sistema é basicamente a de uma estrutura que organiza por meio da união e que, com muita frequência, eclipsa a integridade mais sutil do co-“pertencimento”.

(BORTOFT, Henri. Taking Appearance Seriously. Edinburgh: Floris Books, 2012)