Bewendenlassen, Bewenden lassen, laisser-retourner, deixar-que-se-conjunte, deixar e fazer, involvement, dejar-estar
Bewenden lassen é uma expressão de difícil tradução. Em seu sentido mais literal, ela designa o ato de deixar algo se conformar com algo, de abrir o espaço para que algo apareça em meio a um contexto. Desse modo, pode ser vertida por “satisfazer-se com”, por “deixar ser junto a”. O que está em questão para Heidegger, porém, não é afirmar a correspondência entre duas coisas, mas antes ressaltar o fato de algo conquistar nesse caso a sua determinação a partir de uma tal correspondência. Porquanto algo se conforma a algo, ele aparece como o algo que ele é. Exatamente por isso, o substantivo que surge a partir da expressão bewenden lassen, o substantivo Bewandtnis, também pode ser traduzido por “qualidade”, por “constituição”. A fim de acompanhar o intuito presente no original, portanto, optamos pela locução “conformar-se determinadamente”. (CASANOVA, GA6MAC:212)
«… dejar-estar…»: en alemán, «Bewendenlassen». Heidegger hace constante uso de la evidente relación que existe en alemán entre Bewandtnis y Bewendenlassen. Bewendenlassen significa dejar algo tal como está, «dejar estar». Este sentido es un sentido óntico: se refiere a una actitud del Dasein respecto a los entes intramundanos. Pero Heidegger eleva la expresión Bewendenlassen a un plano ontológico, donde significará dejar ser, en el sentido de permitir que la cosa manifieste su ser, que en este caso es una Bewandtnis, una condición respectiva. La traducción de Gaos «conformarse con» es exactamente lo opuesto al dejar-ser heideggeriano: en vez de sacar al Dasein de sí mismo y dejarlo libre para la cosa misma y para el ser de esta cosa, el conformarse se pliega – «resignadamente» diríamos – a la cosa en su ser. No expresa el ser de la cosa que se deja ser, sino que expresa la conformidad del hombre con ese ser. (Rivera; STRivera:Notas)
Dejar que algo quede como está (Bewendenlassen) significa ónticamente: dentro de un ocuparse fáctico (faktischen Besorgens), dejar estar (sein lassen1) a un ente a la mano (Zuhanden) tal y como ahora está y para que lo esté. Este sentido óntico del «dejar estar» lo entendemos nosotros de un modo radical y ontológico, interpretando de esta manera el sentido que tiene la previa puesta en libertad de lo primeramente a la mano dentro del mundo (Freigabe des innerweltlich zunächst Zuhandenen). Dejar «ser (Sein-lassen)» previamente, no significa hacer o producir (bringen und herstellen) el ser de algo sino que quiere decir descubrir en su estar a la mano (Zuhandenheit entdecken) algo ya «ente», y dejarlo así comparecer (begegnen lassen)2 como el ente que tiene este ser. Este «apriorístico» dejar-ser (Bewendenlassen) es la condición de posibilidad (Bedingung der Möglichkeit) para que lo a la mano comparezca, de tal manera que el Dasein, en el trato óntico con el ente así compareciente, lo pueda dejar estar, en sentido óntico. A diferencia de este sentido óntico, el dejar ser, entendido ontológicamente, se refiere a la puesta en libertad de todo ente a la mano en tanto que a la mano (Freigabe jedes Zuhandenen als Zuhandenes), ya quede él ónticamente como está, ya sea, por el contrario, un ente que precisamente no queda ónticamente como está, sino que inmediata y regularmente es algo de que nos ocupamos, algo que al descubrirlo no lo dejamos «estar» como está, sino que lo elaboramos, mejoramos o destruimos (bearbeiten, verbessern, zerschlagen). (SZ:85; STRivera:106-107)
VIDE: (Bewendenlassen->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Bewendenlassen)
Bewendenlassen (Bewandtnis) – §§ 18, 69 a
laisser-retourner (ETEM)
letting be relevant (BTJS)
NT: Letting (Lassen): be (sein lassen), 84-85, 84fn, 298 (the others), 345, 354; be seen (sehen lassen), 32-35, 44, 63, 141 (see), 154-155, 158, 213, 218-219; be relevant (Bewendenlassen), 84-87, 110-111, 353-356; be encountered (Begegnenlassen), 85-86, 104, 111, 137, 264, 326, 328, 346, 354-356, 366, 408; itself be concerned (sich-angehen-lassen), 141 (in fearing itself); it act in itself (In-sich-handeln-lassen), 295 (said of “ownmost self”); itself be summoned (Sich-aufrufen-lassen), 299; come toward itself (Auf-sich-Zukommen-lassen), 330, 341; “allowing itself” time (Sich-Zeit-lassen), 409, 415; presence, (wesen lassen), 85fn; letting it matter to oneself (sich-angehen-lassen), 141, 170. See also Openness; Possibilitl Resoluteness; Resolution (BTJS)
Bewendenlassen, “deixar e fazer em conjunto”, aplica-se ao manual. Em sentido ôntico, bewendenlassen envolve deixar algo ser, sem interferência ou alteração. Em sentido ontológico, recobre qualquer lida com utensílios que deixe e permita o instrumento ser o que é. Isto pode significar deixá-lo só no sentido ôntico, mas também pode envolver “continuar trabalhando nele, ou melhorá-lo ou fazê-lo em pedaços” (SZ, 85). Bewendenlassen é um tipo de “sein”-lassen, “deixar-’ser’” (SZ, 354; cf. 84s). (DH)
a essência do utensílio remonta a um deixar conformar-se “prévio” ou a priori. Assim como deixamos que o respectivo utensílio repouse em si a cada vez no uso, nós deixamos que o utensílio seja em geral “previamente”, “tal como ele agora é e para que ele seja assim” (Heidegger, Ser e tempo, GA2, p. 113). Esta seria a “liberação prévia” (Ibid.) do ente com vistas à conformidade. Neste caso, o ente seria “liberado” de um tal modo, que ele pode ser acessível e vir ao encontro em uma conformidade. Heidegger sintetiza esta ideia, na medida em que designa o “já-sempre-deixar-se-conformar liberador do ente com vistas à conformidade” um perfeito a priori “que caracteriza o modo de ser do próprio ser-aí” (Ibid., p. 114).
Enquanto um “perfeito a priori”, a liberação é anterior a toda experiência: ela já sempre aconteceu; nenhuma experiência jamais resgata a acessibilidade do ente no sentido da conformidade. Além disto, o fato de esta acessibilidade repousar sobre uma liberação não deve significar, por conseguinte, que ela remontaria a uma resolução, como quer que esta resolução possa vir a ser pensada, a uma ação originária que constitui pela primeira vez o ente enquanto utensílio. A liberação não é efetivamente nenhum fazer, mas um deixar ser e, nesta medida, ela só pode ser compreendida no sentido de uma abertura do ser-aí para a abertura do ente. Quando deixamos algo subsistir ou se realizar, então isto é uma recusa a transformá-lo e, desta maneira, uma confirmação de seu ser independente em relação a nós mesmos. Consequentemente, pertencería ao “modo de ser do ser-aí” o fato de nele o ente já estar desde sempre “descoberto” (lbid., p. 113) como algo à mão. Ao ser-aí pertence o estar voltado para as coisas e, do mesmo modo, a possibilidade de descobrir as coisas neste estar voltado para elas.
Não obstante, tal como Heidegger desenvolve esta ideia, ela permanece ambivalente. Por um lado, a liberação do ente compreendida ontologicamente é um “deixar ser” (Ibid., p. 113); ela equivale a simplesmente tomar ou assumir o ente como ele é. Por outro lado, porém, algo é acrescentado ao ente por meio de sua liberação. Na liberação também reside uma dação (freigeben); algo que provém do ser-aí é acrescentado ao ente. Isto reside, por sua vez, no fato de Heidegger determinar a liberação visada ontologicamente a partir da conformidade. O que está em questão não é assumir o ente simplesmente enquanto tal, mas “o ‘ente’ já” deve ser descoberto “a cada vez em sua manualidade” (Ibidem). Aquilo que já é ganha por meio do ser-aí um modo de ser que ele não possui por si mesmo; a liberação e, portanto, o ser-aí liberador são “a condição de possibilidade de que algo à mão venha ao nosso encontro” (Ibidem). (GFOposi:206-207)
NotaH a: El dejar-Ser (Seyn-lassen). Cf. Vom Wesen der Wahrheit, donde el dejar-ser está pensado a fondo y de una manera enteramente amplia, ¡para todo ente! ↩
NotaH b: O sea, dejar que su ser se despliegue en su verdad (in seiner Wahrheit wesen lassen). ↩