Podemos concluir desta exposição que o existencialismo no Brasil promana de um movimento de pensadores que a partir de Nietzsche e Kierkegaard, aderiram a posições contrárias à absolutidade, à logicidade e à infinitude, tendo-se em vista o cansaço provocado por uma metafísica ultraracional, a uma logicidade inapelável em torno da dicotomia sujeito-objeto, a uma adequatio considerada ultrapassada para a explicação dos fenômenos do ser, enquanto verdade. O que se cuidava na metafísica tradicional era cultivar um substancialismo que, em nenhum momento, atendia às exigências do homem na busca de um real que satisfizesse a verdade filosófica, pois tudo estava encoberto ou estagnado em torno de um Ente, que não encontrava jamais o sentido do ser. Era o ente absoluto, opaco, artificial, totalmente endeusado.
Com a presença de Heidegger, desde Sein und Zeit, a situação se clarificou, procurando-se dar novo sentido a , uma ontologia cuja marca estava centrada na finitude e na temporalidade do homem desbordado pelo seu caráter desvelante, isto é, o ser desvelando o ente.
Dai a atração despertada no seio do pensamento brasileiro pela filosofia da existência, de cujo futuro tanto se espera, pois ela abriu evidentemente horizontes para novas buscas seja no próprio campo heideggeriano, como acontece com Gerd H. Bornheim e nos demais domínios da fenomenologia, como nos da hermenêutica, da psicoanálise, complementando-a.
Sentimos o desenvolvimento da filosofia heideggeriana, entre nós, com as novas interpretações dadas por Ernildo Stein “Em busca de uma ontologia da finitude” e por Gerd A. Bornheim que formulou mesmo incisivas críticas a Martin Heidegger ao estabelecer a problemática da praxis, já que, no seu entender, Heidegger mais se importou com o ser do que com o ente, deixando a ação, o agir, na órbita do imponderável, na atmosfera da inefabilidade, numa área de quase total abstratidade. O homem, em Heidegger, tornou-se um “vizinho do ser”, ou num pastor do ser, conforme sublinhou Vicente Ferreira da Silva em suas “Obras Completas”.