Anwesen, An-wesen, être-près-de, viger, presencing
Nous connaissons ces déterminations de l’être de l’étant – et c’est dire : de l’« étance-même (Seiendheit) » ou « présence (Anwesen) » et, qui plus est, « présence-même (Anwesenheit) » de cet étant en tant que « l’étant-présent (das Anwesende) », – que Heidegger a repérées au cœur de chacune des « positions fondamentales » de la philosophie traditionnelle : de l’idéa platonicienne – soit de la visibilité même de l’« aspect (eïdos) » intelligible sous lequel les choses se présentent à partir d’elles-mêmes telles qu’en « ce (ti) » qu’elles sont –, jusqu’à la vie comme volonté de puissance selon Nietzsche, en passant, entre autres, par l’objectivité de l’objet des sciences mathématico-expérimentales selon Kant, et l’Absolu en tant que le processus de l’autoproduction de la pensée comme totalité de l’étant selon Hegel. Or, contrairement à celles-ci, la Machenschaft n’aura pas été établie comme une telle détermination par quelque figure de ladite philosophie traditionnelle. Elle est ce que Heidegger lui-même a découvert être la détermination de l’être à une époque, la nôtre, où tout paraît au grand jour tourner toujours plus impérativement et exclusivement autour du faire s’appliquant à tout ce qui serait fait de façon à tout rendre faisable et donc à faire, autour du pouvoir de le faire et autour de qui va pouvoir le faire, fût-ce au prix de cet affairement de tous les instants qui semble désormais s’imposer non plus comme un impératif de circonstance, mais comme le nouvel impératif catégorique auquel il faudrait que tout un chacun obéisse sans discussion… jusque dans ses prétendus loisirs. Ce qu’il a découvert en travaillant au questionnant « aménagement » de la « voie » signalée dès la deuxième page des Apports à la philosophie. Voie sur laquelle la pensée qu’on qualifie communément d’occidentale se trouve, à notre époque peut-être plus qu’à toute autre, devant la possibilité d’apprendre à penser comme « commencement » à proprement parler le « premier commencement » qu’elle a connu avec cette pensée grecque de l’être que Platon a achevé d’instituer sous le nom de « philosophie » ; pour peu toutefois qu’elle se laisse porter par le « pressentiment » d’un éventuel « autre commencement » de la pensée de l’être qui, lui, l’engagerait à penser « l’être lui-même », autrement dit « l’estre (das Seyn) », comme « le côté commençant du commencement » (voir avant tout GA70, 9-12) de toute l’histoire-destinée de la pensée en tant qu’« histoire-destinée de l’estre » lui-même. (LDMH)
VIDE: (Anwesen->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Anwesen)
wesen: essenciar-se, estar-a-ser
Abwesen (s) / Abwesende (s): o-estar-ausente, ausência / o-que-está-ausente
anwesen / Anwesen (s): vir-à-presença, estar-presente / o-estar-presente, o vir-à-presença
anwesend / Anwesende (s): presente, que está presente / o que-está-presente, o que-vem-à-presença
Anwesenheit (e): presença, estar-em-presença (cf. Präsenz)
Gewesene (s) / Ge-wesene (s): o sido, aquilo que foi / o sido, o já essenciado
Wesen (s) / Unwesen (s): essência, estar-a-ser, ser / anti-essência, abuso da essência, in-essência
Wesende (s): o-que-se-essencia, o que-está-a-ser
Wesenheit (e): essencialidade
Wesensblick (r): o olhar-que-vê-a-essência (GA5BD)
viger, estar em voga, ser, sendo, estar em vigência
vigir, vigorar (CLINGUA)
Anwesen: présence; presence; vigência, vigente, viger, vigorar
NOTE TRANSLATOR: 7. By writing An-wesen, Heidegger stresses the composition of the verb anwesen, translated as “to presence.” The verb consists of wesen (literally, to continue or endure) with the prepositional prefix an- (at, to, toward). It is man who must receive presenting, man to whom it comes as enduring. Cf. On Time and Being, trans. Joan Stambaugh (New York: Harper & Row, 1972), p. 12. (QCT, p 9)
Aceitando-se a tradução de Dasein por presença, com base no que dissemos até agora, resta ainda discutir como então distinguir, na tradução, Dasein de Anwesen, termo que adquire um lugar importante na obra tardia de Heidegger, precisamente quando a palavra Dasein é, digamos assim, deixada para trás. A palavra Anwesen foi traduzida por vigência, possibilidade de que a língua francesa, por exemplo, não dispõe. Vigência provém de vigere, vigeo de onde também provém vigescere, vigor. Do mesmo étimo provém o alemão wesen. O significado amplo desses termos é de um demorar-se vigoroso. A palavra vigência é, portanto, uma tradução praticamente literal do alemão Anwesen.
O uso intenso de Anwesen depois de Ser e Tempo acompanha a busca de Heidegger de fazer aparecer a vitalidade do paradoxo da existência. Isto aparece na intensa verbalização-temporalização de palavras como Wesen, essência, Welt, mundo, Nicht, nada, Ding, coisa, onde essas palavras passam a ser usadas e a soar inusitadamente como verbo — essencializar, mundanizar, nadificar, coisar. (Schuback)
(das) Anwesen é o infinitivo substantivado de um verbo já extinto, anwesen, “viger, estar aí, dentro de, ou envolvido em algo”. O particípio anwesend ainda significa “ser e estar vigente, (estar) presente em algo”. No século XV, Anwesen adquiriu o seu sentido atual de “estado, domicílio, residência, morada, propriedade”, e no século XVIII perdeu seu sentido anterior de “presença”. (Equivale à palavra de Platão e Aristóteles para “ser, substância, essência”, ousia, significava, no grego comum, “o que é próprio de alguém, a substância de alguém, propriedade” (GA24, 153; IM, 46/50).) Anwesen no sentido de “vigência, presença” foi substituída no século XVII por Anwesenheit, “vigência, presença”, normalmente mas não invariavelmente no sentido espacial (“estar em vigor, em sua presença”). Heidegger também reanima o antigo uso de Anwesen, principalmente no sentido verbal de “viger, vigorar, presentificar, vir à presença” (GA6, 160,452, 598/N1, 135; N2, 187; N3, 106s), mas também para “presença” (GA6I, 394/N4, 247). O sentido verbal é mais explícito em sua cunhagem, Anwesung (PDT, 223/262; GA65, 188 etc.). (DH)
NT: Presencing: 39fn (Anwesen), 85fn (wesen lassen), 235fn (An-wesenheit es west, 87fn, 165fn, 252fn. See also essence as presencing (BTJS)
Pois é de uma “história” ou fenomenologia do ser no mundo humano de que aqui se trata: do ser no seu “estar-a-ser” ou “essenciar-se” (wesen, nesse sentido verbal, para o qual não temos expressão directa em português (XI), como a não há no alemão contemporâneo, pelo que também Heidegger houve de recorrer a um arcaísmo para dizer o que pretendia), pelo qual o ser vem a estar-em-presença (anwesen), no não-estar-encoberto (Un-verborgenheit) da sua verdade. (Borges-Duarte GA5)