réal

Wirkliche, real

Para esclarecer o que significa o termo “o real” (Wirkliche), na frase “a ciência é a teoria do real” (Die Wissenschaft ist die Theorie des Wirklichen), vamos nos ater à palavra. O real preenche e cumpre o setor da operação (Bereich des Wirkenden), daquilo que opera. O que significa “operar” (wirken)? A resposta a esta pergunta deve ater-se à etimologia. (…)

“Operar”, wirken, significa “fazer”, tun. O que significa tun? A palavra provém da raiz indo-europeia dhe, de onde vem igualmente o grego thesis, posição, posicionamento, localização (Setzung, Stellung, Lage). Mas não se entende este fazer apenas, como atividade humana (menschliche Tätigkeit), e, tampouco, no sentido de ação e agir (der Aktion und des Agierens). Também o crescimento, vigência da natureza (Walten der Natur) (physis), é um fazer, no sentido acima mencionado de thesis. Somente depois, é que physis e thesis vieram a opor-se uma à outra. Uma oposição que só tornou-se possível porque alguma coisa de idêntico as unia e determinava. physis é thesis, a saber, a pro-posição de algo por si mesmo, no sentido de pôr em frente, de trazer à luz, de a-duzir e pro-duzir, de levá-lo à vigência (Anwesen). É, neste sentido, fazer que equivale a operar, que diz viger numa vigência. Assim o real é o vigente. Entendido assim como trazer e levar à vigência, o verbo “operar”, “wirken”, invoca um modo de o real se realizar, de o vigente viger e estar em vigor. Operar é, pois, trazer e levar à vigência, seja que, por si mesmo, algo traga e leve a si mesmo para a sua própria vigência, seja que o homem exerça este trazer e levar. Na linguagem medieval, o verbo “wirken”, “operar” significava ainda a produção de casas, de utensílios, de imagens e quadros; posteriormente, este significado se restringiu à pro-dução (Hervorbringen), no sentido de costurar, tricotar, fiar.

O real é tanto o operante como o operado, no sentido daquilo que leva ou é levado à vigência (Anwesen
Her-vor-bringende und Her-vor-gebrachte). (GA7CFS:42)


(…) Ora, com o início da Idade Moderna, a palavra “real” assume, a partir do século XVII, o sentido de “certo”. Não se trata de mero acaso e nem de um capricho inocente na evolução semântica de simples palavras.

No sentido de fato e fatual, o “real” se opõe ao que não consegue consolidar-se numa posição de certeza e não passa de mera aparência ou se reduz a algo apenas mental. Mas, mesmo nestas mudanças de significado, o real sempre conserva o traço mais originário de vigente, daquilo que se apresenta por si mesmo, embora se ofereça agora com menos ou com outra intensidade.

É que, agora, o real se propõe em efeitos e resultados. 0 efeito faz com que o vigente tenha alcançado uma estabilidade e assim venha ao encontro e de encontro. 0 real se mostra, então, como ob-jeto (Gegen-stand). (GA7CFS:44)