Elliott: Wittgenstein e Bioética

nossa tradução

No final, uma sensibilidade diferente pode ser a coisa mais importante que uma leitura cuidadosa de Wittgenstein tem para oferecer à Bioética: não uma doutrina filosófica, mas uma atitude em relação ao mundo e nosso lugar nele. No entanto, para Wittgenstein, alcançar uma sensibilidade diferente não é apenas uma questão do que fazemos ou decidimos. É produto de uma linguagem e uma forma de vida. “A doença de um época é curada por uma alteração no modo de vida dos seres humanos, e era possível que a doença de problemas filosóficos fosse curada apenas através de um modo de pensamento e de vida alterado, e não através de um medicamento inventado por um indivíduo” 1. Como James Edwards coloca: “A sólida compreensão humana não é nossa conquista. É possível para nós porque é uma forma de vida, e essa possibilidade não é o resultado de nossa vontade. . . . O bom entendimento humano é uma ocasião de graça, não de triunfo heróico” 2. Dado o estado da medicina e da bioética dos EUA, isso não nos deixa com uma conclusão otimista. Numa época em que a prática médica é impulsionada pelo capitalismo de mercado livre, ética utilitária e um otimismo progressista sobre o poder da tecnologia, é difícil discordar do pessimismo de Wittgenstein sobre seu trabalho: “Não é impossível que grande parte desse trabalho, na pobreza e na escuridão de seu tempo, venha a trazer luz a um cérebro ou a outro – mas é claro que não é provável” 3.

Original

In the end, a different sensibility may be the most important thing that a careful reading ofWittgenstein has to offer bioethics: not a philosophical doctrine, but an attitude toward the world and our place in it. Yet for Wittgenstein, achieving a different sensibility is not solely a matter of what we do or decide. It is a product of a language and a form of life. ‘‘The sickness of a time is cured by an alteration in the mode of life of human beings, and it was possible for the sickness of philosophical problems to get cured only through a changed mode of thought and of life, not through a medicine invented by an individual’’ (RFM, p. 57). As James Edwards puts it, ‘‘The sound human understanding is not our achievement. It is possible for us because a form of life is, and that possibility is not the result of our will. . . . The sound human understanding is an occasion of grace, not heroic triumph.’’ 33 Given the state of U.S. medicine and bioethics, this does not leave us with an optimistic conclusion. In a time when medical practice is driven by free-market capitalism, utilitarian ethics, and a Whiggish optimism about the power of technology, it is hard to disagree withWittgenstein’s pessimism about his work: ‘‘It is not impossible that it should fall to the lot of this work, in its poverty and the darkness of its time, to bring light into one brain or another—but of course, it is not likely’’ (PI vi).

  1. Remarks on the Foundations of Mathematics. Translated by G. E. M. Anscombe. Oxford: Basil Blackwell, 1956, p. 57[]
  2. Edwards, Ethics without Philosophy, p. 255[]
  3. Philosophical Investigations. Translated by G. E. M. Anscombe. Oxford: Basil Blackwell, 1953, 1958, 1968.[]