Neste ponto, devia basear-se na eloquência toda a educação política dos chefes, a qual se converteu necessariamente na formação do orador, se bem que a palavra grega logos tenha implícita uma imbricação muito superior do formal e do material. Sob esta luz, torna-se compreensível e ganha sentido o fato de ter surgido uma classe inteira de educadores que publicamente ofereceram, por dinheiro, o ensino da “virtude” – no sentido acima indicado. Esta falsa modernização do conceito grego de areté peca essencialmente por fazer surgir aos olhos do homem atual, como arrogância ingênua e sem sentido, a pretensão dos sofistas ou mestres da sabedoria, como os contemporâneos os chamavam e a si próprios eles se intitulavam. Este absurdo mal-entendido desfaz-se logo que interpretamos a palavra areté no seu sentido evidente para a época clássica, isto é, no sentido de areté política, vista sobretudo como aptidão intelectual e oratória, o que nas novas condições do séc. V era decisivo. É natural que encaremos os sofistas retrospectivamente pelo ponto de vista céptico de Platão, para quem o princípio de todo o conhecimento filosófico é a dúvida socrática sobre a possibilidade de ensinar a virtude. É, porém, historicamente incorreto e inibe toda a compreensão autêntica daquela importante época da história da educação humana sobrecarregá-la de problemas que aparecem apenas numa fase posterior da reflexão filosófica. Do ponto de vista histórico, a sofistica é um fenômeno tão importante como Sócrates ou Platão. Além disso não é possível concebê-los sem ela. (PAIDEIA, 1995, p. 341)