MacDowell: esquecimento da questão do sentido de ser

Heidegger não somente constata o fato do esquecimento da questão do sentido de ser na Metafísica tradicional, esquecimento tanto mais tenaz quanto a própria Metafísica o ratificou, expressamente, a partir da própria ideia de ser que secretamente a dirige. Ele é também capaz de situar este fenômeno no contexto de sua análise da existência humana. Se a Metafísica dispensou-se de investigar o sentido de ser, é devido à tendência geral do entender humano a submergir na tradição. (1993, p. 173)


A perspectiva em que Sein und Zeit situa o fenômeno do esquecimento da questão do sentido de ser será superada por Heidegger nos anos seguintes. Aqui tal esquecimento é considerado como consequência de um questionar inautêntico, decaído na tradição desarraigada. A recapitulação desta questão aparece, ao invés, como resolução autônoma do eis-aí-ser, enquanto filosofante, de projetar-se de acordo com suas possibilidades mais próprias. Mais tarde, as vicissitudes da história da Ontologia serão explicadas a partir do próprio ser, que, através de sua revelação e ocultamento, constitui o pensar em suas respectivas possibilidades epocais. Não há, porém, contradição direta entre a tendência pelagiana, por assim dizer, da análise da existência em Sein und Zeit e a concepção da História do ser das obras do período posterior. Com efeito, as análises de Sein und Zeit não fecham a porta a uma explicação mais radical que venha transtornar o seu voluntarismo. E, por outro lado, as ordenações do ser não se exercem como uma fatalidade inexorável, antes requerem a colaboração do pensar atento e obediente. (1993, p. 177-178)