8. O mito do progresso indefinido, negando o pecado original, a ordem natural e as essências ônticas, não é outra cousa senão o produto de uma inversão pela qual se colocou, no futuro da sociedade terrestre, o Paraíso Perdido, que todas as tradições colocavam no passado. Tendo rejeitado a crença bíblica no Paraíso que foi perdido, os sociólogos, historiadores, filósofos e reformadores progressistas, delinearam a maneira pela qual a sociedade terrestre deveria encontrar o paraíso a ser achado. A teoria mais curiosa neste sentido e que antevê o paraíso terrestre pré-fabricado no futuro, é o marxismo, típica expressão da mentalidade capitalista, para a qual a felicidade tem uma natureza econômica e quantitativa, coincidindo a máxima felicidade com o máximo consumo; o marxismo, repelindo, como todo progressismo, o paraíso terrestre no passado, se reduz afinal de contas a uma alegoria do paraíso terrestre no futuro, quando a felicidade há de coincidir com a supressão da luta de classes, com a total socialização do indivíduo, com a abolição do Estado e com a cessação em suma de todo movimento histórico; pois, se o movimento histórico é a dialética da luta de classe, a supressão dessa luta há de paralisar sem dúvida a história, de tal sorte que, numa exata transposição da doutrina do Paraíso Perdido e anterior à História, (115) o marxismo é a teoria do paraíso achado e posterior à história, — Herbert Spencer pôde prever, depois da síntese final evolutiva, um processo de dissolução, de desintegração e de análise, subordinando evolução e dissolução à lei do ritmo; porém o marxismo foi a única teoria que pretendeu que o movimento histórico se paralisasse afim de confirmar as suas alegorias do paraíso terrestre no futuro.
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