O conhecimento dos objetos que constituem a realidade empírica chama-se orientação no mundo. E apenas orientação, porque, perpetuamente inacabado,tal conhecimento constitui um processo sem fim; é uma orientação no mundo, porque é conhecimento de um modo determinado do ser, do ser que está no mundo.
E forçoso distinguir orientação no mundo, como conhecimento das coisas que estão no mundo, da análise da realidade empírica. Esta visaria a atingir o ser empírico em geral, em toda a sua amplitude englobante, que envolveria também a orientação no mundo. Esforça-se por atualizar as estruturas mais gerais, segundo as quais se realiza não só a orientação no mundo, mas tudo quanto tem que ser para mim; a análise da realidade empírica é uma etapa da busca filosófica do ser.
A orientação no mundo se divide em orientação científica e orientação filosófica.
Não achamos conhecimento objetivo, como orientação no mundo, fora das ciências tais quais se apresentam em seu desenvolvimento até ao presente. Sem elas, nenhuma orientação filosófica no mundo seria possível. Sem uma incansável assimilação da orientação científica e sem investigação científica pessoal, toda a busca filosófica resulta vazia, porque sem matéria. Esta busca há de chocar contra a dureza incômoda da realidade empírica, se quiser chegar até ao ser verdadeiro, como possibilidade que está mais além do saber. Só quem fez esforços apaixonados para se orientar ao nível das realidades concretas, pode nelas descobrir a autêntica orientação filosófica.
A orientação filosófica no mundo não reúne os últimos resultados obtidos pelas ciências numa visão sintética do universo; ao contrário, ela demonstra a impossibilidade de uma tal visão universal, válida para todos, porquanto única e absoluta; a sua pesquisa é a dos elementos problemáticos que implica, de fato, toda a orientação no mundo.
(Philosophie, I, págs. 29-30)