Aussenwelt

Aussenwelt, Außenwelt, monde externe, mundo-externo, mundo externo, external world

Faz-se a pergunta pela “realidade” do “mundo exterior” sem uma prévia elucidação do fenômeno-do-mundo. O “problema-do-mundo-exterior” orienta-se de fato constantemente pelo ente do-interior-do-mundo (as coisas e os objetos). É assim que essas discussões são levadas para uma problemática ontologicamente quase inextricável. (SZ:203; STCastilho:565)


Crer na realidade do “mundo exterior”, com razão ou sem razão; demonstrar essa realidade de modo satisfatório ou insatisfatório; pressupô-la expressamente ou não, semelhantes tentativas, impotentes para dominar em plena transparência o próprio solo sobre o qual se movem, pressupõem de imediato um sujeito sem mundo ou, o que dá no mesmo, um sujeito que não está seguro de seu mundo e que, no fundo, deve primeiramente assegurar-se de um mundo. O ser-no-mundo depende, então, desde o começo de um apreender, de um pressupor, de um ter certeza ou crer, isto é, de um comportamento que já é sempre ele mesmo um modus fundado do ser-no-mundo. (SZ:206; STCastilho:573)


VIDE: (Aussenwelt->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Aussenwelt)

mundo exterior
monde extérieur (ETEM)
external world (BTJS)

NT: External world (Aussenwelt), 201, 202-208 (§ 43a), 211, 273. See also Proof (BTJS)


O principal interesse de Heidegger não é o termo Realität, mas a ideia de que a realidade do “mundo externo (Aussenwelt)” precisa ser provada. Kant falou da necessidade de provar não a Realität do Aussenwelt, mas “Dasein das coisas fora de nós” (SZ, 203). Kant usou Dasein no sentido de “realidade, atualidade”, reservando Realität para a natureza de algo que ultrapassa a sua existência atual (GA24, 45s). (DH:157)


Pode esta realidade do “mundo externo” ser provada de modo suficiente?
Não, a realidade do mundo externo não pode e nem precisa ser provada. Já que Dasein é no mundo, e qualquer um que tente provar a sua realidade é Dasein, estamos tentando provar o que já é óbvio para nós. Se tentarmos prová-lo, precisaremos achar premissas que não incorram em petição de princípio e não assumam que nós já somos no mundo. Isto leva à distorção acima mencionada de se reduzir, gradualmente, Dasein a uma consciência sem mundo. A conclusão supostamente estabelecida por tais provas via de regra representa enganosamente o mundo externo como uma coleção de coisas físicas simplesmente-dadas (vorhanden), prostradas ao lado de nossos estados de consciência simplesmente-dados. O que precisamos fazer com o cogito ergo sum de Descartes é não usá-lo para provar a realidade do mundo, mas invertê-lo, explorar o sum, meu ser (Sein), antes: ele se mostra como ser-no-mundo (In-der-Welt-sein) (SZ, 211; GA20, 210).
(…)
Heidegger considera e rejeita a visão de que a realidade do mundo externo consiste na vivida ou encorpada percepção das coisas (GA20, 300s; GA24, 62ss). Isto nega o mundo à nossa volta, o Umwelt, com a sua familiar, mas inconspicua significação. Mais satisfatória é a visão de que a realidade resiste à nossa vontade e impulso, uma visão sugerida por Dilthey e desenvolvida por Scheler (GA20, 302ss; SZ, 209ss Cf. GA61, 148, 177). Entre outros méritos, esta visão não restringe nossas lidas com as coisas a conhecimento (Erkenntnis) e juízo (Urteil), reconhecendo o papel da nossa natureza corporal em nossa experiência do mundo. O problema é todavia, o seguinte: só posso experimentar resistência (Widerständigkeit) à minha vontade (Wille) se estiver à procura de algo para assim encontrar resistência. Mas se estou à procura de algo o mundo deve já estar descoberto por mim, ainda que eu não saiba precisamente o que ele contém. A resistência pode me dizer o que é real e o que não é, mas ela não pode me dizer que há um mundo. (DH)