Gedächtnis

Gedächtnis, mémoire, memória, memory

A palavra alemã para dizer memória, Gedächtnis, compõe-se do prefixo “Ge” – concentração, reunião e “dächtnis”, formada pelo participio “gedacht do verbo pensar “denken”. Isso possibilita a Heidegger enfatizar o nexo essencial entre memória e pensamento (N.T. GA7CFS:118).


A memória é a reunião do pensar (Versammlung des Denkens). Em quê (Worauf)? Naquilo que nos mantém à medida que isso por nós foi considerado, isto é, pensado pelo fato de que Isso (Es) permanece o que deve ser pensado (zu-Bedenkende). O pensado (Bedachte) é o presenteado (Beschenkte) com uma recordação (Andenken), presenteado, porque nos apetece (mögen). Apenas quando desejamos (mögen) o que por si é o que deve ser pensado, estamos aptos (vermögen) ao pensar (Denken). (GA8:5; GA8PRS)


O estar-a-ser (Wesen) como ter visto (Gesehenhaben) é o saber (Wissen). Este mantém a vista (Sicht). Recorda o estar-presente (Anwesens). O saber é a memória do ser (Gedächtnis des Seins). É por isso que Μνημοσύνη é a mãe das Musas. (GA5BD:407)


Hölderlin vê na palavra grega Μνημοσύνη o nome de uma Titanide. Ela é a filha do Céu e da Terra. Noiva de Zeus, Mnemosyne torna-se em nove noites a mãe das musas. Jogo e dança, canto e poesia são os rebentos de Mnemosyne – da memória. Evidentemente, a palavra memória evoca, aqui, outra coisa do que somente a capacidade imaginada pela psicologia de conservar o passado na representação. Memória pensa o pensado. Mas o nome da mãe das musas não evoca “memória” como um pensar qualquer em qualquer algo pensável. Memória é, aqui, a concentração do pensamento que, concentrado, permanece junto ao que foi propriamente pensado porque queria ser pensado antes de tudo e antes de mais nada. Memória é a concentração do pensar da lembrança daquilo que, antes de tudo e antes de mais nada, cabe pensar. Esta concentração guarda junto de si e abriga em si o que, sempre e antes de mais nada, permanece e se anuncia como o a-se-pensar em tudo o que anuncia como o vigente e o vigor de ter sido. Memória, o pensar concentrado da lembrança do que cabe pensar, é a fonte da poesia. Por isso, o modo próprio de ser da poesia se funda no pensar. Isto nos diz o mito, ou seja, a saga. Seu dizer evoca o mais antigo. O mais antigo não somente porque, segundo a ordem cronológica, é o mais anterior, mas porque, desde sempre e para sempre, e segundo seu modo próprio de ser, permanece o mais digno de se pensar. Enquanto representarmos o pensamento segundo o que sobre ele a lógica nos informa, enquanto não levarmos a sério o fato de a lógica ter se fixado num modo particular de pensamento – enquanto imperar este estado de coisas, jamais poderemos considerar com atenção que e em que medida o poetar funda-se no pensar da lembrança. (GA7CFS:117-118)


(…) enquanto a linguagem levada plenamente à sua essência é histórica, o ser é conservado na memória. (GA9GS:374)


Aquela possibilidade, que foi pela primeira vez além do descerramento meramente momentâneo da αἴσθησις (percepção sensível) e tornou acessível mais expressamente o ente, é a retenção: a μνήμη (memória). (GA19MAC:103)


Portanto, encontrou-se um meio para a μνήμη (memória). Atentem os senhores para aquilo que dissemos anteriormente sobre a μνήμη (memória): a retenção daquilo que tinha sido visto uma vez pela alma, daquilo que já se encontra desde o princípio à disposição para ela, se ela possui o acesso correto. Para essa μνήμη (memória), portanto, encontrou-se um φάρμακον (remédio). (GA19MAC:371)


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