GA65:76 – ciência, rigor e exatidão

11) Toda ciência é rigorosa, mas nem toda ciência é “ciência exata” [exakte Wissenschaft]. O conceito do “exato” é plurissignificativo. Em termos gerais, a palavra significa: exato, mensurado, cuidadoso. Nesse sentido, toda ciência é, segundo a sua exigência, “exata”, a saber, com vistas ao cuidado na manipulação dos métodos como meio de seguir o rigor 1 que se encontra na essência da ciência. Ora, mas se “exato” significa o mesmo que numericamente determinado, medido e calculado, então a exatidão é o caráter de um método mesmo (sim, já da sacada), não meramente do tipo de seu manuseio.

12) Se “exatidão” significa o próprio procedimento mensurador e calculador, então é válida a sentença: uma ciência só pode ser exata porque ela precisa ser rigorosa.

13) Uma ciência, contudo, precisa ser exata (para permanecer rigorosa, isto é, para permanecer ciência), se sua região de objetos é estabelecida de antemão como um âmbito que só é acessível em uma mensuração quantitativa e em um cálculo quantitativo e que, portanto, só admite resultados (o conceito moderno de “natureza”).

14) As “ciências do espírito (ciências humanas)”, em contrapartida, para serem rigorosas, precisam permanecer necessariamente inexatas. Não se trata nesse caso de nenhuma falha, mas de seu privilégio. Nesse caso, de acordo com o critério do desempenho, a execução do rigor nas ciências do espírito (ciências humanas) sempre permanece muito mais difícil do que a realização da exatidão nas ciências “exatas”.

15) Toda ciência é, enquanto positiva e particular, debitária em seu rigor da tomada de conhecimento de sua região de objetos, da sondagem em relação a essa região, da 2 e do experimentum no sentido mais amplo possível. Até mesmo a matemática carece da experientia, da simples tomada de conhecimento de seus mais simples objetos e de suas determinações nos axiomas.

16) Toda ciência é sondagem investigativa [untersuchende Erkundung], mas nem toda ciência pode ser “experimental” no sentido do conceito moderno do experimento.

17) A ciência mensuradora (exata), em contrapartida, precisa ser experimental. O “experimento” 3 é uma consequência necessária da essência da exatidão, e, de maneira nenhuma, uma ciência é exata porque ela experimenta.

[HEIDEGGER, Martin. Contribuições à Filosofia (Do Acontecimento Apropriador). Tr. Marco Antonio Casanova. Rio de Janeiro: Via Verita, 2014, §76]
  1. ?Strenge[]
  2. ?empeiria[]
  3. ?Experiment[]