Harada (2021) – Escola

A palavra skholé hoje significa ócio, estar livre de negócios, tempo livre, lazer. Em latim se diz então otium. O contrário do otium é nec-otium (non-otium), donde vem a palavra negócio. Skholé vem do verbo skhein, ekhó, e significa propriamente ater-se, estar no vigor da atinência. Portanto, originariamente tanto skholé como otium não se referem à folga da ociosidade nem ao descanso, mas sim ao modo de trabalho intenso de engajamento no crescimento da auto-identidade, não obrigado de fora, não escravizado por lucro, medo, ganância ou pelo poder dominador do outro, mas livremente, assumido como exercício da criatividade humana na autonomia da sua liberdade. Esse modo de trabalhar mais tarde deu origem ao trabalho criativo das assim chamadas profissões livres, e caracterizou no Ocidente o vigor e a força dos estudos universitários na construção da humanidade livre, universal (cf. o espírito “missionário” da Aufklärung-Iluminismo). Esse modo de ser é o que está no fundo de todo o élan da existência científica de hoje, mesmo que na sua realização haja defasagens e desvios, esquecimentos da compreensão essencial do que seja a vigência das ciências.

[HARADA, H. De Estudo, Anotações Obsoletas: A Busca da Identidade Humana e Franciscana. Petrópolis: Vozes, 2021]