Carman (2003:130n) – objetos matemáticos

Não está claro se Heidegger considera os objetos matemáticos como coisas genuinamente ocorrentes. De fato, ele não tem quase nada a dizer sobre o ser de entidades abstratas. É claro que a tese do próprio Ser e Tempo — de que o tempo é “o horizonte possível de qualquer compreensão do ser” (SZ 1) e que “a problemática central de toda ontologia está enraizada no fenômeno do tempo, adequadamente visto e adequadamente explicado” (SZ 18) — dificilmente é hospitaleira para o platonismo. Mas isso também não implica necessariamente que o platonismo seja falso, pois ele diz apenas que as entidades (assim chamadas) “atemporais” são inteligíveis para nós apenas em virtude de sua relação com a temporalidade, mesmo que essa relação seja totalmente negativa. Se o platonismo sustenta, como o próprio Platão parece ter sustentado, não apenas que algumas entidades existem fora do tempo, mas que elas são inteligíveis para nós, para o “olho da nossa mente”, por assim dizer, sem qualquer referência ao tempo, ou seja, se o platonismo não é apenas uma tese metafísica sobre entidades abstratas, mas uma afirmação sobre as condições hermenêuticas associadas a elas, então Heidegger rejeita o platonismo. No entanto, se o platonismo apenas insiste que existem tais coisas, então a posição de Heidegger parece ser de neutralidade, ou talvez de indiferença (ver SZ 18).

(CARMAN, Taylor. Heidegger’s Analytic: Interpretation, Discourse and Authenticity in Being and Time. New York: Cambridge University Press, 2003)