Merleau-Ponty (1948:165-166) – metafísica

O que todo mundo pode dizer brevemente é qual o significado que a palavra metafísica gradualmente assumiu para si, a que se opõe, com que intenção a usa. Um relato deste tipo não é suficiente para estabelecer o conceito do qual dá, por assim dizer, apenas o valor de uso. É legítimo pelo menos como uma contribuição para a sociologia das ideias, se a metafísica latente que revela no uso da palavra for suficientemente ampla.

Agora, a metafísica, reduzida pelo kantianismo ao sistema de princípios que a razão emprega na constituição da ciência ou do universo moral, — radicalmente desafiada nessa função orientadora pelo positivismo — não deixou de ter uma vida ilegal na literatura e na poesia. Mesmo nas ciências, está reaparecendo, não para limitar seu escopo ou erguer barreiras, mas como um inventário deliberado de um tipo de ser que o cientificismo ignorou e que as ciências aprenderam gradualmente a reconhecer. É essa metafísica em ação que propomos definir mais claramente e, antes de tudo, trazer à luz no horizonte das ciências humanas.

(M. Merleau-Ponty, Sens et non-sens, Nagel, 1948, p. 165-166.)