Descombes (2014:CII.3) – a “questão do sujeito”

Para entender o significado dado à palavra “sujeito” no discurso filosófico a partir do final do século XVIII, temos que voltar, como nos diz Heidegger, aos pressupostos ontológicos da lógica clássica: o sujeito de uma proposição singular deve, pelo menos em última análise, representar uma substância. É por isso que o sujeito do ato cogitativo (ou sujeito da consciência) mantém, na filosofia moderna, as características ontológicas de um ser dotado de identidade substancial.

Heidegger acrescenta que devemos partir da pergunta “Quem?” para entender o que é ser um sujeito no sentido de que consiste em ser si mesmo, ou melhor, em ser colocado diante da possibilidade de ser si mesmo ou, ao contrário, de existir em um modo inapropriado ou inautêntico (Uneigentlichkeit).

Mas se isso for verdade, então é importante enfatizar que a “questão do sujeito” — em outras palavras, a pergunta que fazemos quando perguntamos “quem? — não tem um único significado. Ela corresponde a vários esquemas conceituais, que é útil distinguir por meio de distinções linguísticas 1.

  1. J’ai développé plus amplement ce point dans Le Complément de sujet. Enquête sur le fait d’agir de soi-même (Paris, Gallimard, coll. NRF Essais, 2004).[]