Compreendendo-se no “então”, o aguardar se interpreta e, assim, compreende como atualização, a partir de seu “agora”, aquilo que aguarda. Nesse caso, então, já subsiste na “indicação” do “então” o “e agora-ainda-não”. O aguardar que atualiza compreende o “até então”. A interpretação articula esse “até então” – ele, sem dúvida, “possui seu tempo” – como o entrementes, que também remete à possibilidade de datação. Ele se exprime no “durante”. Aguardando de novo, a ocupação pode articular o próprio “durante” por meio de outras indicações de “então”. O “até então” divide-se numa série dos “desde então até então”, previamente “abraçados” no projeto do “então” primordial que aguarda. Junto com o compreender que aguarda e atualiza o “durante”, articula-se o “durar”. Essa duração é, por sua vez, o tempo revelado na interpretação que a temporalidade dá de si. Esse tempo é, assim, compreendido, embora de maneira não temática, em cada ocupação, como “LAPSO DE TEMPO”. A atualização, que aguarda e retém, só “in”-terpreta, portanto, um “durante”, dentro de um LAPSO DE TEMPO porque, com isso, ela se abriu, como a ex-tensão ekstática da temporalidade histórica, mesmo não sendo reconhecida como tal. Aqui, no entanto, mostra-se uma outra particularidade do tempo “indicado”. Não apenas o “durante” se dá num LAPSO DE TEMPO, mas, junto com a estrutura da possibilidade de datação, todo “agora”, “então” e “outrora” sempre possuem uma dimensão variável quanto à envergadura do lapso: “agora” na pausa, na refeição, à tarde, no verão; “então”: no café da manhã, na subida, etc. STMSC: §79
A datação do “então”, que se interpreta no aguardar de uma ocupação, implica, pois: então, quando amanhece, é tempo de trabalhar. O tempo interpretado nas ocupações já é compreendido como tempo de… Cada “agora em que isso ou aquilo” é, como tal, apropriado e inapropriado. Assim como todo modo do tempo interpretado, o “agora” não é um mero “agora em que…” mas, como tal, o que pode ser essencialmente datado também se acha, em sua essência, determinado pela estrutura da apropriação e inapropriação. O tempo interpretado tem, desde sempre, o caráter de “tempo de…”, ou “não é tempo de…”. A atualização que aguarda e retém, inerente à ocupação, compreende o tempo, remetendo ao para quê, o qual, por sua vez, encontra-se, em última instância, solidamente ligado ao em virtude de que a presença [Dasein] pode ser. Junto com essa remissão do ser-para, o tempo público revela a estrutura anteriormente conhecida como significância. Esta constitui a mundanidade do mundo. Como tempo de…, o tempo público tem, em sua essência, caráter de mundo. Por isso, chamamos de tempo do mundo o tempo que se torna público na temporalização da temporalidade. E isso não porque ele seja simplesmente dado como um ente intramundano, o que aliás ele nunca pode ser, mas porque, em sentido ontológico-existencial, ele pertence ao mundo. Deve-se mostrar a seguir de que maneira as remissões essenciais da estrutura de mundo, por exemplo, o “ser-para”, em razão da constituição ekstática e horizontal da temporalidade, estão conectadas com o tempo público, por exemplo, “então, quando”. Em todo caso, somente agora é que se pode caracterizar, de forma plenamente estrutural, o mundo das ocupações: o mundo das ocupações é datável, se dá num LAPSO DE TEMPO, é público e, por ser assim estruturado, pertence ao próprio mundo. Por exemplo, todo “agora”, que se pronuncia cotidiana e naturalmente, possui essa estrutura e é assim compreendido pela presença [Dasein] no deixar-se tempo nas ocupações, embora de maneira atemática e preconceitual. STMSC: §80
A sequência de agora é ininterrupta e sem lacunas. Por “mais” que dividamos o agora em “partes”, ele sempre ainda é agora. A permanência do tempo é vista no horizonte de algo simplesmente dado e indissolúvel. É orientando-se ontologicamente por um ser simplesmente dado insistente que se busca resolver o problema da continuidade do tempo ou que se deixa subsistir a aporia. Assim deve ficar encoberta a estrutura específica do tempo do mundo, uma vez que ela se estica num LAPSO DE TEMPO, junto com a possibilidade de datação, ekstaticamente fundada. Não é a partir da ex-tensão, horizontal da unidade ekstática da temporalidade, publicada na ocupação do tempo, que se compreende o esticar-se num LAPSO DE TEMPO. Que todo agora, mesmo o mais momentâneo, sempre já é agora, deve ser concebido a partir do ainda “anterior”, de onde brota todo agora: a partir da ex-tensão ekstática da temporalidade, estranha a qualquer continuidade dos entes simplesmente dados, mas que, por sua vez, constitui a condição de possibilidade para o acesso a uma constância do que é simplesmente dado. STMSC: §81