especulação

A dialética é o processo de produção da subjetividade do sujeito absoluto e, enquanto tal, a sua “necessária ação”. De acordo com a estrutura da subjetividade, o processo de produção tem três níveis. Primeiro, o sujeito, enquanto consciência, se refere imediatamente a seus objetos. O que é imediato e, contudo, é representado de maneira indeterminada, é designado por Hegel também por “o ser”, o geral, o abstrato. Pois nisto ainda se abstrai da relação do objeto com o sujeito. Somente através desta retro-referência, que é a reflexão, o objeto é representado enquanto objeto para o sujeito e este para si mesmo e isto quer dizer, enquanto se referindo ao objeto. Enquanto, todavia, só distinguirmos objeto e sujeito, ser e reflexão, opondo-os um ao outro, e nos fixarmos nesta distinção, o movimento do objeto em direção do sujeito ainda não manifestou a totalidade da subjetividade para ela. O objeto, o ser, está, não há dúvida, mediado pela reflexão com o sujeito, mas a própria mediação ainda não está representada enquanto o mais íntimo movimento do sujeito para este. Somente quando a tese do objeto e a antítese do sujeito são descobertas em sua necessária síntese, está o movimento da subjetividade da relação-objeto-sujeito plenamente em marcha. A marcha é partida da tese, avanço em direção à antítese e passagem para dentro da síntese e desta, como totalidade, o retorno da posição posta, a si mesma. Esta marcha recolhe a totalidade da subjetividade em sua unidade desdobrada. Desta maneira, ela con-cresce, con-crescit, torna-se concreta. De tal modo a dialética é especulativa. Pois spe-culari quer dizer procurar ver, receber dentro do campo visual, compreender, con-ceber. Hegel diz, na introdução à “Ciência da Lógica” (Ed. Lasson, Vol. I, pág. 38): a especulação consiste “no compreender o oposto em sua unidade”. A caracterização hegeliana da especulação toma contornos mais precisos, se atentarmos para o fato de que na especulação não é apenas importante a compreensão da unidade, a fase da síntese, mas que antes e sempre importa o compreender “do que se opõe” enquanto tal. Disto faz parte o compreender do aparecer da oposição e imbricação do que é oposto – como tal impera a antítese, que é exposta na “lógica da essência” (quer dizer, a lógica da reflexão). Do aparecer reflexivo, quer dizer, do espelhar recebe o speculari (speculum: o espelho) sua suficiente determinação. Pensada assim, a especulação é a positiva totalidade daquilo que a “dialética” quer aqui significar: não um modo de pensar transcendental, criticamente restritivo ou mesmo polêmico, mas o espelhamento e unificação do que se opõe como o processo da produção do próprio espírito. HEGEL E OS GREGOS

Hegel designa a “dialética especulativa” também simplesmente como “o método”. Com esta expressão ele não se refere nem a um instrumento da representação, nem apenas a uma particular maneira de a filosofia proceder. “O método” é o mais íntimo movimento da subjetividade, “a ‘alma do ser”, o processo de produção, através do qual a tessitura da totalidade da realidade do absoluto é efetivada. “O método”: “a alma do ser” – isto soa à fantasia. Pensamos que nossa época já abandonou tais aberrações da especulação. Vivemos, no entanto, no coração desta suposta fantasia. HEGEL E OS GREGOS

A palavra fundamental de Heráclito é: Lógos, o recolhimento que torna presente e manifesto tudo o que é em sua totalidade enquanto o ente. Lógos é o nome que Heráclito dá ao ser do ente. Mas, a interpretação hegeliana da filosofia de Heráclito justamente não se orienta na direção do lógos. Isto é estranho, tanto mais estranho quanto Hegel conclui o prefácio à sua interpretação de Heráclito com as palavras: “não há proposição alguma de Heráclito que eu não tenha incluído na minha lógica.” (Op. cit., pág. 328). Mas para esta “lógica” de Hegel é o lógos a razão no sentido da subjetividade absoluta; a “lógica” mesma, todavia, é a dialética especulativa através de cujo movimento o imediatamente universal e abstrato, o ser, é refletido enquanto o objetivo na oposição com relação ao sujeito; esta reflexão é, por sua vez, determinada enquanto a mediação no sentido do vir-a-ser em que o oposto se aproxima, torna-se concreto, alcançando assim a unidade. Captar esta unidade constitui a essência da especulação que se desdobra como dialética. HEGEL E OS GREGOS