O acontecimento-apropriação apropria homem e ser em sua essencial comunidade. Um primeiro e embaraçoso clarão do acontecimento-apropriação descobrimos no arrazoamento. Este constitui a essência do universo moderno da técnica. No arrazoamento entrevemos um comum-pertencer de homem e ser, em que o deixar pertencer primeiramente determina a espécie de comunidade e sua unidade. Acompanhou-nos na questão pelo comum-pertencer, em que o pertencer tem prioridade sobre a comunidade, o dito de Parmênides: “Pois o mesmo é tanto pensar como ser”. A questão do sentido deste mesmo é a questão da essência da identidade. A doutrina da metafísica apresenta a identidade como um traço fundamental no ser. Mas agora se mostra: ser com o pensar faz parte de uma identidade, cuja essência brota daquele comum-pertencer que designamos acontecimento-apropriação. A essência da identidade é uma propriedade do acontecimento-apropriação. MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA
O pensamento se transformou a caminho desde o princípio como uma enunciação sobre a identidade para o princípio como salto para dentro da origem essencial da identidade. Por isso o pensamento descobre, encarando o presente, além da situação do homem, a constelação de ser e homem, a partir daquilo que a ambos apropria numa comunidade, a partir do acontecimento-apropriação. Supondo que nos aguarde a possibilidade de que o arrazoamento, recíproca provocação de homem e ser para o cálculo do que é calculável, nos convoque e se nos explicite como acontecimento-apropriação que desapropria homem e ser entregando-os àquilo que lhes é próprio, então estaria livre o caminho em que o homem experimenta de maneira mais originária o ente, a totalidade do moderno universo da técnica, da natureza e da história, e, antes de todos, o ser deles. MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA
Mas o refúgio numa tal inversão seria pouco séria. Esta falseia o verdadeiro estado de coisas. Ereignis não é conceito supremo abarcador, sob o qual seria possível inserir ser e tempo. Relações lógicas de ordem não dizem nada aqui. Pois, ao meditarmos sobre o próprio ser e perseguirmos o que lhe é próprio, mostra-se ele como o dom do destino de presença garantido pelo alcançar do tempo. O dom do presentar é propriedade do acontecer-apropriando. Ser desaparece no Ereignis. Na expressão: “Ser enquanto o Ereignis”, o “enquanto” quer agora dizer: Ser, presentificar destinado no acontecer que apropria, tempo alcançado no acontecer que apropria. Tempo e ser acontecem apropriados no Ereignis. E quanto a este mesmo? Pode-se dizer mais do Ereignis? MHeidegger: TEMPO E SER
Assim diz-se na conferência sobre a identidade, caso for pensada partindo de seu final, o que o Ereignis acontece e apropria, isto é, o que conduz para o interior do que é próprio e mantém no Ereignis: a saber, o comum-pertencer de ser e homem. Neste comum-pertencer não são mais então ser e homem os que pertencem a uma comum-unidade, mas – enquanto acontecidos e apropriados – os mortais na quaternidade do mundo. Do acontecido e apropriado, da quaternidade, falam, cada uma a seu modo, a conferência Terra e Céu de Hölderlin (Anuário de Höderlin, 1960, pp. 17 ss.) e a conferência A Coisa. Também tudo que foi dito sobre a linguagem como dizer, como “saga”, refere-se a isto (A Caminho da Linguagem, 1959). MHeidegger: PROTOCOLO DO SEMINÁRIO SOBRE A CONFERÊNCIA “TEMPO E SER”