A física que, falando-se a grosso modo, inclui hoje a macrofísica e a física atômica, a astrofísica e a química, trata da natureza (physis) inanimada. Nesta objetidade, a natureza se mostra um sistema de movimento de corpos materiais. A característica fundamental do corpóreo é a impenetrabilidade que se revela, por seu turno, numa espécie de sistema de movimento de partículas elementares. A física clássica os representa, a eles e seu sistema, numa mecânica geométrica de pontos e a física atual, pelas categorias de “núcleo” e “campo”. Em consequência, a física clássica pode determinar, isto é, calcular previamente com precisão qualquer estado de movimento, tanto no tocante à posição como no tocante à grandeza do movimento. Na física atômica, ao invés, todo estado de movimento só se pode determinar, em princípio, ou quanto à posição ou quanto à grandeza de movimento. Por isso, a física clássica considera que se pode calcular de antemão a natureza de modo exato e completo ao passo que a física atômica só admite certeza entre os nexos de objetos de caráter estatístico.
A objetidade da natureza material apresenta na física atômica moderna características fundamentais completamente diferentes da física clássica. Esta, a física clássica, pode-se inserir naquela, a física atômica, mas a recíproca não é verdadeira, pois a física nuclear já não pode se absorver e reduzir à física clássica. Não obstante, também a física moderna do núcleo e do campo continua física, isto é, ciência, isto é, teoria, que corre atrás de objetos do real em sua objetidade, para deles assegurar-se na unidade da objetidade. Também para a física moderna vale assegurar e controlar as partículas elementares de que se compõem todos os demais objetos de qualquer setor. A representação da física moderna continua ainda sintonizada com a “possibilidade de escrever uma única equação fundamental donde decorram as propriedades de todas as partículas elementares e com isto o comportamento de toda a matéria” [Heisenberg].
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Esta breve referência às diversas épocas na evolução da física moderna mostra onde se desenrola a passagem de uma época para outra, a saber, na experiência e determinação da objetidade em que se ex-põe a natureza. O que, porém, não muda nesta passagem da física clássica geométrica para a física do campo e do núcleo é o fato de a natureza ter-se dis-posto, já de antemão, a um asseguramento que busca realizar a ciência, como teoria. Não será aqui possível discutir com precisão o grau e a medida em que, na mais recente fase da física atômica, também o objeto desaparece e a relação sujeito-objeto assume, enquanto pura relação, o primado frente ao sujeito e ao objeto e tende a assegurar para si a pura condição de dis-ponibilidade dis-positiva.
(A objetividade se transforma na constância da dis-ponibilidade determinada pela com-posição”. Só assim a relação sujeito-objeto chega a assumir seu caráter de “relação”, ou seja, de dis-posição em que tanto o sujeito como o objeto se absorvem em disponibilidades. Isso não significa que a relação sujeito-objeto desaparece mas, ao contrário, que somente agora atinge seu completo vigor já predeterminado pela com-posição. Ela se torna, então, uma disponibilidade a ser dis-posta.) [GA7]