Erschlossenheit

abertura (STMSCC)
ouverture (ETEM)
disclosedness (BTJS)

O discurso heideggeriano localizado no coração de Ser e tempo sobre o problema da verdade (Wahrheitsproblem) nos dá a matriz a partir da qual toda sua obra pode ser lida e, talvez, deva ser lida. Os dois elementos decisivos são, por um lado, a intenção de Heidegger de criticar a questão da verdade tradicional, não no sentido pejorativo, e, por outro, sobre essa crítica desenvolver alguns aspectos da verdade (Wahrheit) como ele pensa que ela deva ser desenvolvida, depois dos 25 séculos da História da Filosofia e dos 40 parágrafos de Ser e tempo. Sem dúvida nenhuma, uma empresa gigantesca, mas, certamente, inteiramente inovadora, na medida em que Heidegger baseia a questão da verdade sobre a característica, que é um dos existenciais fundamentais do Dasein, que é a Erschlossenheit, traduzido por revelação, no sentido de erschliessen, revelar, explorar, mas muito mais provavelmente ligado também ao termo Schloss (Schlussel), chave. Erschlossenheit, portanto, a condição de aperibilidade, de se poder abrir algo, e, assim, ligado praticamente já a esse nível que eu quero acentuar nesse momento, que é o nível prático (praxis). Não é, contudo, o nível prático que resulta e que sucede, digamos assim, uma reflexão filosófica. É o nível prático que precede e acompanha toda a reflexão filosófica.

A Erschlossenheit passa a ter um sentido, em Heidegger, de ser, ao mesmo tempo, uma correção do lugar em que se fazia a discussão da verdade, que era o lugar da consciência (Bewusstsein), e uma introdução da discussão da verdade no âmbito do próprio modo de ser (Seinsart) do Dasein, portanto do modo de ser prático do Dasein. Com esse modo de ser prático do Dasein, que se dá nessa revelação, o conceito de verdade passa a ter uma característica que, de um lado, se afasta da ideia de verdade como propriedade das proposições verdadeiras (Satzwahrheit) ou falsas e, de outro, da ideia de verdade como qualidade de um sujeito (Subjekt), como elemento transcendental sustentado pela subjetividade (Subjektivität) para fundamentar a verdade. Heidegger, portanto, se afasta dessas duas dimensões, não simplesmente para criticá-las pejorativamente, mas fundamentalmente para encontrar-lhes um fundamento mais radical. O conceito de Erschlossenheit, portanto, que substitui o conceito de intencionalidade (Intentionalität) e de consciência (Bewusstsein), é decisivo. (Ernildo Stein; ESVerdade:21-22)


Nota da Tradutora: A pre-sença (Dasein) realiza-se em descobrindo. O modo de abertura próprio da presença distingue-se da descoberta na medida em que ela se revela para si mesma, exercendo o papel de revelador. Esse modo de revelação da pre-sença (Dasein), Ser e Tempo chamou de abertura. A descoberta dos entes não dotados do caráter de pre-sença (Dasein) se faz como ser-descobridor da pre-sença numa abertura. Abrir e abertura, porém, não têm o uso que apresentam em alemão schliessen e Schluss de concluir e conclusão dentro de um raciocínio. (STMSCC 315)


NT: Erschlossenheit, Erschliessung (le deuxième terme étant plus actif) : ouverture. Cette traduction (utilisée également par BW, en concurrence avec « révélation », qu’on a rejeté) s’imposait d’après ce que précise H. lui-même en 75, évoquant les mots aufschliessen, Aufgeschlossenheit (v. note de BW à 133), qui s’appliquent à un homme « ouvert » par opposition à « renfermé », verschlossen. D’où aussi notre trad. de l’ant. verschliessen par « refermer ». (ETEM)


NT: Disclosedness (Erschlossenheit: a “present perfect a priori,” 85 +fn), 38, 75, 87, 110, 123, 132-137, 141, 143-149, 150-152, 160-162, 165-170, 173-175, 180-186, § 44 (truth), § 68 (its temporality), et passim; as technical term, 75; Dasein is its, 133, 269; of being-in (“there”) is Dasein’s “clearing,” 133, 170. See also Clearing; Light; There; Truth; Understanding of being (BTJS)


Heidegger associa decisão a ser descoberto: “De-cisão (Entschlossenheit) é um modo privilegiado de abertura (Erschlossenheit) de Dasein” (SZ, 297). Entschlossenheit é “a incumbência específica de Dasein de abrir a si mesmo para o aberto” (GH, 59/81). Ele também usa beschliessen, originalmente “fechar, cerrar etc.”, agora usado nas acepções de “incluir” “decidir”, i.e., concluir seus pensamentos sobre o assunto (SZ, 299, 300). (DH)


Erschlossenheit (die): «estar abierto», «estado de abierto». La Er-schlossenheit indica el carácter esencialmente abierto del Dasein, señala el hecho de que el Dasein está abierto al mundo, a los otros y a sí mismo y, por ende, al ser. Esa apertura originaria, entendida como horizonte irrebasable en que previamente ya siempre nos encontramos, remite al sentido griego de la ἀλήθεια (aletheia). Con anterioridad, en las lecciones del semestre de verano de 1923, el mundo como una totalidad significativa de referencias es caracterizado como un estar abierto. Pero esta particular ἀλήθεια (aletheia) queda encubierta por la absorción en la medianía, anulando la potencial propiedad del Dasein. En el tratado de 1924, El concepto de tiempo, y en las lecciones del semestre de verano 1925, Prolegómenos a la historia del concepto de tiempo, el carácter de apertura del Dasein todavía se determina como Entdecktheit. Como se señala en la entrada Entdecktheit, los términos Entdecktheit y Erschlossenheit no quedan fijados terminológicamente hasta la redacción de Ser y tiempo, donde se distingue con claridad entre el estado de descubierto (Entdecktheit) de los entes que no tienen la misma forma que el Dasein y el estado de abierto (Erschlossenheit) del Dasein como tal. Véanse también las entradas Da y Entdecktheit (die), entdecken. (GA63, pp. 93, 97-99; GA64, p. 56; GA20, pp. 249, 350; GA21, p. 148; GA24, pp. 94-107 (comprensión del ser), 100-102 (apertura, revelamiento del ser), 307 (descubrir, abrir, desvelar); SZ, pp. 132, 133, 136-137, 143, 146-148 (disposición afectiva-comprensión = apertura originaria del estar-en-el-mundo), 161-162, 167, 170, 180, 184-191 (angustia), 220-223, 226-228, 230-231, 270 (conciencia), 272, 295 (querer tener conciencia), 297 (resolución), 325, 335-350 (temporalidad del estar-abierto), 350.) (LHDF)


Erschlossenheit (disclosedness) — World as meaningful context of references is first characterized as disclosedness in GA63. But as the habitual absorption in averageness, this particular αλήθεια (aletheia) of disclosedness (GA63:99) covers up the ownness and potential authenticity of Dasein (63: 85), that is, its potential discoveredness. Only with BT does Heidegger reverse his terms and speak instead of the disclosedness of Dasein and the discoveredness of (usually) entities within the world. But even then, the world itself in its worldliness or its being-there (SZ 85f., 132) is regarded as disclosedness. (KisielBT)