GA79 – Conhecimento historiológico
O conhecimento historiológico não nos leva para dentro da história dos pensamentos que guiam o mundo. O conhecimento historiológico representa o que foi pensado anteriormente como algo passado, oferece evidências sobre o passado, mas ainda não atesta nenhuma historicidade. Mesmo quando as representações sobre o passado são historiológica e filologicamente corretas, e portanto certas dentro dos limites da ciência, e mesmo que utilizemos essas representações corretas sobre o passado com o objetivo de uma comparação com o contemporâneo, nunca chegamos ao ponto em que um pensamento anterior nos aborda de modo preocupante, elevando-nos e retirando-nos dessas concepções historiológicas sobre o pensar. Para cima e para fora, rumo a onde?
O conhecimento historiológico sobre o que foi pensado anteriormente — tomado por si só e contabilizado — ainda não garante que nos enviemos com toda a nossa essência para dentro daquele pensamento que, de longe, além de nós, nos é dado nos pensamentos mais antigos do pensamento ocidental, os quais assim vêm até nós. Enquanto isso, eles vêm. Permanecem a caminho em sua chegada, mesmo quando não lhes prestamos atenção porque estamos obcecados em analisar a situação atual para podermos planejar a próxima. A indústria da contínua análise da situação é uma coisa, mas outra é o olhar histórico reservado para a constelação. Este é o presente que nos confessa que e como os pensamentos mais antigos do Ocidente — reinando silenciosamente como em seu primeiro dia — determinam e realizam a essência da tecnologia mundial moderna.
Nietzsche diz sobre aqueles pensamentos que “guiam o mundo” que eles “vêm em pés de pombas”. Assim, é necessário um ouvido fino para perceber a vinda e a proveniência do pensamento que guia o mundo. O ouvido histórico é fino quando está atento ao apelo. Para estar atento dessa maneira, a escuta deve ser livre, ou seja, aberta dentro da amplitude da dispensação que é confessada ao ouvido. Antes de tudo, tal escuta da proveniência dos pensamentos que nos são pensados deve ter deixado de lado aquela forma de representação segundo a qual o próprio ouvir é entendido apenas como o ato de um sujeito que atrai seus objetos ou, o que aqui vale igualmente, outros sujeitos para dentro de sua esfera. Nesse esquema da relação sujeito-objeto, ou mesmo da relação sujeito-sujeito, também se inclui a relação eu-tu, tão enfatizada hoje. Aqui, as concepções padrão permanecem presas na apreensão do humano como sujeito, ou seja, no cartesianismo.
