GA66:168-169 – cultura
“Cultura” (Kultur), no sentido de cultivo (Pflege) e realização (Verwirklichung) de “valores” (Wert) e isto uma vez mais como “meta” (Ziel) ou como “meio” (Mittel) da humanidade (Menschentum) populista ou nacional ou humana, ou ainda como “expressão” (Ausdruck) da vida (Leben) popular, pressupõe a cada vez a concepção do ser como maquinação (Auffassung des Seins als Machenschaft) (produtibilidade representada (vorgestellte Hergestelltheit)) e é constituída apenas com base no domínio do homem como sujeito (Subjektum); o pensamento valorativo (Wertgedanke) é a manifestação mais extrínseca do ser como objetualidade (Gegenständlichkeit) (a “crítica” à “cultura” enquanto tal realizada em Ser e tempo (SZ) funda-se na determinação essencial da historicidade (Wesensbestimmung der Geschichtlichkeit), na distinção entre história e historiologia (Unterscheidung von Geschichte und Historie), na interpretação da verdade como re-solução do ser-aí enquanto ser-no-mundo (Auslegung der Wahrheit als Entschlossenheit des Da-seins als In-der-Welt-seins)). O domínio da consciência cultural (Herrschaft des Kulturbewußtseins) e, de acordo com ele, o domínio da política cultural (Kulturpolitik) empreendem uma consolidação crescente da Modernidade (Neuzeit) na direção do esquecimento do ser (Seinsvergessenheit) por ela posto em ação; não uma determinada configuração e degeneração da cultura e da consciência cultural, mas a “cultura” enquanto tal é o desenraizamento do homem (Entwurzelung des Menschen) e significa o desatamento de sua essência, de todo modo infundada, da história (Geschichte); esta rejeição da “cultura” não é nenhuma “intercessão” em favor do estado de “natureza” (»Natur«-zustand); a distinção entre “natureza” (Natur) e “cultura” se torna muito mais caduca por meio dessa rejeição, uma vez que a cultura sempre pressupõe a natureza (physei òn e poioumenon, prakton – ο modelo aristotélico). A exclusão da história (Aussperrung aus der Geschichte), contudo, não pode ser superada imediatamente por meio da “política”, porque a política, por sua vez, tomada completamente por uma pretensão total de domínio, significa apenas a virada da cultura para a essência maquinacional técnico-historiológica consumada do homem moderno. (…) A “cultura” possui metafisicamente a mesma essência que a “técnica” (Technik). A cultura é a técnica da historiologia (Kultur ist die Technik der Historie), o modo como o cálculo historiológico dos valores (historische Wert-rechnen) e a criação de bens (Güter-schaffen) se instaura e, com isto, se propaga o esquecimento do ser (Seinsvergessenheit). (GA66:168-169; tr. Casanova:148-149)
