GA6 – vontade e além-do-homem
O niilismo clássico, que experimenta enquanto a transvaloração de todos os valores o ente enquanto vontade de poder e que pode admitir o eterno retorno do mesmo como a única meta, precisa criar o próprio homem para “além” de si e criar como medida a figura do “além-do-homem”. GA6MAC V
Os cinco títulos principais mencionados – “niilismo”, “transvaloração de todos os valores até aqui”, “vontade de poder”, “eterno retorno do mesmo”, “além-do-homem” – mostram a metafísica de Nietzsche em um aspecto a cada vez uno, mas respectivamente determinante do todo. GA6MAC V
Portanto, só conseguiremos saber o que significa o “niilismo” no sentido de Nietzsche se concebermos ao mesmo tempo e em sua conexão aquilo que a “transvaloração de todos os valores”, a “vontade de poder”, o “eterno retorno do mesmo” são, assim como quem é o “além-do-homem”. GA6MAC V
A partir da necessidade de pensar a essência do “niilismo” em conexão com a “transvaloração de todos os valores”, com a “vontade de poder”, com o “eterno retorno do mesmo” e com o “além-do-homem”, já é possível supor que a essência do niilismo é em si plurissignificativa, dotada de vários níveis e multiforme. GA6MAC V
A única razão para as exposições inadequadas da doutrina nietzschiana do além-do-homem é o fato de não se ter conseguido levar a sério até aqui a filosofia da vontade de poder enquanto metafísica e conceber metafisicamente as doutrinas do niilismo, do além-do-homem e, antes de tudo, a doutrina do eterno retorno do mesmo como elementos constituintes necessários, o que significa, porém, pensá-las a partir da história e da essência da metafísica ocidental. GA6MAC V
Com isso, para além do pensamento valorativo, deparamo-nos com um contexto que nos é quase imposto pela metafísica da vontade de poder; pois essa metafísica, à qual pertence a doutrina do além-do-homem, coloca o homem, tal como nenhuma metafísica antes dela, no papel da medida incondicionada e única para todas as coisas. GA6MAC V
“A vontade de poder”, “o niilismo”, “o eterno retorno do mesmo”, “o além-do-homem” e a “justiça” são as cinco expressões fundamentais da metafísica de Nietzsche. GA6MAC VI
Aquele homem, porém, que, em meio ao ente, assume um comportamento em relação ao ente que enquanto tal é vontade de poder e que se mostra na totalidade como eterno retorno do mesmo se chama o além-do-homem. GA6MAC VI
Que a vossa vontade diga: o além-do-homem há de ser o sentido da Terra!” (Assim falou Zaratustra, Prefácio, n 3). GA6MAC VI
A subjetividade consumada da vontade de poder é a origem metafísica da necessidade essencial do “além-do-homem”. GA6MAC VI
Posta em seu ápice, portanto, a vontade de poder enquanto a subjetividade consumada é o sujeito supremo e único, ou seja, o além-do-homem. GA6MAC VI
Caso queira a si mesma e caso queira uma meta em sintonia com o seu modo de ser, a nova humanidade em meio ao ente, que é na totalidade desprovido de metas e, enquanto tal, vontade de poder, precisa querer necessariamente o além-do-homem: “Não a ‘humanidade’, mas o além-do-homem é a meta!” (A vontade de poder, n 1001). GA6MAC VI
No tempo da mais luminosa claridade, uma vez que o ente na totalidade se mostra como eterno retorno do mesmo, a vontade precisa querer o além-do-homem; pois só sob a perspectiva do além-do-homem é possível suportar o pensamento do eterno retorno do mesmo. GA6MAC VI
Somente agora fica clara a exigência presente no prefácio a Zaratustra: “Que a vossa vontade diga: que o além-do-homem seja o sentido da Terra!”. GA6MAC VI
Como o princípio da nova instauração de valores, porém, essa vontade se coloca em favor do fato de o ente não ser o além suprassensível, mas a Terra de cá, e, em verdade, enquanto o objeto da luta pelo domínio da Terra, para que o além-do-homem se torne o sentido e a meta desse ente. GA6MAC VI
É somente onde o ente é enquanto tal vontade de poder e, na totalidade, eterno retorno do mesmo, que pode se realizar a inversão niilista do homem até aqui no além-do-homem e que o além-do-homem precisa ser, como o sujeito supremo da subjetividade incondicionada da vontade de poder, um sujeito erigido para si por essa subjetividade mesma. GA6MAC VI
Se o ente vigora enquanto vontade de poder na totalidade do eterno retorno do mesmo, a subjetividade incondicionada e consumada da vontade de poder precisa se colocar humanamente no sujeito do além-do-homem. GA6MAC VI
As cinco expressões fundamentais: “vontade de poder”, “niilismo”, “eterno retorno do mesmo”, “além-do-homem” e “justiça” correspondem à essência quintuplamente articulada da metafísica. GA6MAC VI
