GA51:27-28 – A impossibilidade de encontrar o “é”
“A folha é verde”. O verde da folha encontra-se na própria folha. Mas então, onde está o “é”? Também dizemos: a folha “é” ela mesma, a folha; portanto, o “é” tem que pertencer à própria folha visível. Mas não “vemos” o “é” na folha, pois se assim fosse, ele deveria ser colorido e ter uma forma espacial. Onde e o que “é” o “é”?
A pergunta continua sendo bem notável; parece nos levar a uma sutileza vã, uma sutileza, aliás, sobre o que nem nos perturba, nem precisa nos perturbar. O cultivo de árvores frutíferas segue seu curso sem que paremos para pensar sobre o “é” e a botânica obtém noções sobre as folhas das plantas sem saber nada sobre o “é”. Basta que o ente seja. Atenhamo-nos ao próprio ente; querer parar para pensar sobre o “é” é conversa fiada. Mas também evitamos deliberadamente enfrentar a resposta simples à pergunta sobre onde se pode encontrar o “é”.
Fiquemos com o último exemplo dado: “a folha é verde”. Neste caso, apreendemos “a folha verde em si”, o ente é nomeado enquanto “objeto”. Ora, dado que não se pode encontrar neste objeto o “é”, ele deve então pertencer ao “sujeito”, entendendo-se aqui como tal o homem que julga, que enuncia essa proposição. Todo homem se deixa considerar como “sujeito” em relação aos “objetos” que se lhe apresentam. Só que, o que acontece com os “sujeitos” dos quais cada um pode dizer de si mesmo “eu” e que, sendo muitos, podem dizer de si mesmos “nós”? Esses “sujeitos” também “são” e têm que “ser”. Ao dizer que na proposição “a folha é verde” o “é” se encontra no “sujeito”, deslocamos a questão; pois também o “sujeito” é um “ente”, de modo que se repete a mesma questão, e talvez seja ainda mais difícil dizer até que ponto o “ser” pertence ao sujeito e, além disso, de tal forma que daí é transferido, por assim dizer, para o “objeto”. Para mais precisão, quando entendemos a folha verde como “objeto”, apreendemos imediatamente, apenas em sua relação com o sujeito e não precisamente como entidade em si, o que é interpelado em “é” e “é verde”, expressando assim o que diz respeito à própria entidade.
Refugiar o objeto no sujeito é, em muitos aspectos, um expediente questionável. Por isso, temos agora de nos preparar para ganhar impulso e, para começar, ver o que queremos dizer com “é”.
