GA5:32 – Vida
Leben
Artemis é a deusa da aurora, da luz, do jogo. Seu sinal é a lira que aparece em forma do arco. Para o grego, arco e lira são o mesmo. A lira — agora o arco — lança a flecha. O arco traz a morte. Entretanto, as mortes arremessadas pelas suas flechas são as mortes “súbitas”, as mortes “suaves” e “amáveis”. A deusa da aurora, do jogo e da luz é também a deusa da morte, como se o que é claro, o que joga e o que surge fossem como a morte. Surgir, iluminar-se, jogar e tocar caracterizam, sobretudo, o vigor essencial da zoe (“vida”) e do zoon (“vivo”). Nossa palavra “vida” possui um significado tão sobrecarregado pelo pensamento cristão e moderno que não diz mais nada do que os gregos entendiam por zoe e zoon. Embora nossa palavra “vida” seja apenas uma tradução indeterminada e confusa da palavra grega zoe, ainda podemos pensar, nessa palavra, que “vida” é uma contraposição à morte. Como pode a deusa da iluminação, do surgimento e do jogo ser ao mesmo tempo a deusa da morte, ou seja, do sinistro, do crepúsculo, da rigidez? Vida e morte são contrários. Mas o contrário é o que mais intimamente se atrai para o que o contraria. Onde vigora o contrário dá-se a luta, a eris. Para Heráclito, que pensa a luta como a essência de ser, a deusa do arco e da lira, Artemis, é a mais próxima. Sua proximidade, no entanto, é a pura proximidade, ou seja, a distância. Em tudo isso, deve-se pensar a proximidade e a distância de maneira grega — e não “moderna” -, como uma ordem numérica, como um intervalo maior ou menor entre pontos do espaço. (GA5 32; GA5PT)
