GA65 – “verdade”

»Wahrheit«

A expressão não significa: a “verdade” “sobre” o seer, por exemplo, até mesmo como uma consequência de proposições corretas sobre o conceito do seer ou uma “doutrina” irrefutável sobre o seer. GA65 (Casanova): 44

Mesmo se algo assim pudesse ser algum dia condizente com o seer, o que é impossível, não precisaria ser pressuposto apenas que há uma “verdade” sobre o seer, mas também e antes de tudo de que tipo em geral é a essência daquela verdade, na qual o seer desponta. GA65 (Casanova): 44

De onde, porém, vem para a filosofia do futuro a sua necessidade e indigência? Ela mesma não precisa despertar – iniciando-se – pela primeira vez essa necessidade e essa indigência? Essa necessidade e essa indigência se encontram aquém da aflição e da preocupação, que sempre apenas contornam as coisas em um aceno qualquer do ente fixado e de sua “verdade”. GA65 (Casanova): 45

Onde, porém, a “verdade” há muito tempo não se mostra mais como questão e a tentativa de tal questão é rejeitada como perturbação e como um permanecer ao largo meditabundo, aí a indigência do abandono do ser não encontra de modo algum um tempo-espaço. GA65 (Casanova): 60

3) O que é cognoscível “cientificamente” é a cada vez previamente dado “para a ciência” em uma “verdade”, ela mesma nunca concebível pela ciência, uma verdade que concerne à região conhecida do ente. GA65 (Casanova): 76

Tempo” como a denominação da “verdade” do ser e tudo isso como tarefa, como “a caminho”; não como doutrina e dogmática. GA65 (Casanova): 91

No primeiro início, a verdade (enquanto desvelamento) é um caráter do ente enquanto tal e, de acordo com a mudança da verdade para a correção do enunciado, a “verdade” se transforma na determinação do ente que se tornou algo objetivo, (verdade como correção do juízo, “objetividade”, “realidade efetiva” – “ser” do ente). GA65 (Casanova): 91

Com certeza, porém, a confrontação mostra que, para a interpretação do ente até aqui, se perdeu a necessidade, uma vez que não se pode experimentar mais nenhuma indigência e impeli-la para a sua “verdade”, nem tampouco o modo como até mesmo a verdade de si mesma é deixada inquestionada. GA65 (Casanova): 94

Quando, como a “verdade” propriamente dita, o que significa ao mesmo tempo sua superação e transfiguração, é possível e é transportada para o “nobre”. GA65 (Casanova): 114

O ser-aí não conduz para fora do ente e não evapora o ente em uma espiritualidade, mas, ao contrário, de acordo com a unicidade do seer, ele abre pela primeira vez a inquietude do ente, cuja “verdade” só se constitui na luta uma vez mais inicial de seu abrigo no que é criado pelo homem histórico. GA65 (Casanova): 193

Uma vez que essa essência é histórica, toda e qualquer “verdade” no sentido do verdadeiro só se mostra com maior razão historicamente como algo verdadeiro, se ela for levada antes de tudo de volta em seu crescimento para um fundamento e, por meio daí, tiver se tornado ao mesmo tempo a força que atua antecipadamente. GA65 (Casanova): 217

E a “verdade” é visada como a essência questionável do verdadeiro, algo bastante provisório e alheio para qualquer um que queira lançar mão e possuir francamente o verdadeiro. GA65 (Casanova): 222

Partir da ambiguidade essencial: a “verdade” visada como “o verdadeiro”; o verdadeiro, porém, é a verdade como encobrimento clareador do acontecimento apropriador. GA65 (Casanova): 227

O fato de o enunciado se tornar o lugar para a “verdade” é concomitantemente o que há de mais estranho em sua história, apesar de isso ser considerado por nós como corrente. GA65 (Casanova): 231

E Nietzsche, junto ao qual se reúne a tradição ocidental na variante moderna e antes de tudo positivista do século XIX e junto ao qual ao mesmo tempo a “verdade” é trazida para a posição oposta e, com isso, para a copertinência com a arte – as duas como modos fundamentais da vontade de poder como a essência do ente (essentia), cuja existentia é denomina como o eterno retorno do mesmo. GA65 (Casanova): 232

Nietzsche não chega, porém, a uma posição livre em sua meditação sobre a “verdade”, porque ele: 1) Refere a verdade à “vida” (de maneira “biológico”-idealista) como asseguramento da vida. “ GA65 (Casanova): 234

Mas será que ele chegou a ter clareza quanto à verdade desse ponto de partida “da vida” e, com isso, da vontade de poder e do eterno retorno do mesmo? À sua maneira, com certeza, pois ele compreende esses projetos do ente como uma tentativa que fazemos com a “verdade”. GA65 (Casanova): 234

Pois, apesar das ressonâncias do “perspectivismo”, a “verdade” continua enredada na “vida” e a vida mesma, de maneira quase coisal, um centro de vontade e de força, que quer sua elevação e superelevação. GA65 (Casanova): 234

Todavia, como é que a confrontação com Nietzsche dominou ou não dominou a sua concepção da “verdade” é algo que precisa se transformar na pedra angular da decisão sobre se nós auxiliaremos a sua filosofia propriamente dita a alcançar o seu futuro (sem nos tornarmos “nietzschianos”), ou se nós o inseriremos em uma ordem “historiológica”. GA65 (Casanova): 234

Mas a vontade de “verdade” é, de acordo com isso, ambígua: ela é enquanto fixação uma contrariedade em relação à vida e, enquanto vontade de aparência, enquanto transfiguração, elevação da vida. GA65 (Casanova): 234

Mas a questão já parece presa a um saber em torno da “verdade”, de maneira bastante indeterminada, confusa e habitual, para tornar uma vez mais questionável se um recurso a tal saber e opinar resiste. GA65 (Casanova): 236

Crer significa, porém, sobretudo na contraposição aberta ou tácita em relação ao saber, o tomar-por-verdadeiro daquilo que se subtrai ao saber no sentido da intelecção explicativa (já: “acreditar” em uma notícia, cuja “verdade” não pode ser comprovada, mas que é atestada por aqueles que a comunicam e por testemunhas). GA65 (Casanova): 237

Por outro lado, o retorno para a sua proveniência não conduz de qualquer modo para a origem essencial, para a “verdade”, ainda que topos (inserção de espaço) e kronos (pertencente à psyche) apontem de volta para a physis. GA65 (Casanova): 239

O outro questionar, porém, também não se revela aí como verdade “absoluta”; e isso já não se mostra assim porque tal demonstração de tal “verdade” vai de encontro à essência desse questionamento. GA65 (Casanova): 259

Por que oferecemos, então, em geral ainda a mínima atenção a esse não se preocupar com o ser sob a forma de ontologia? Certamente não para colocar em discussão ou até mesmo alterar a respectiva opinião e doutrina do seer apresentada, ou a recusa de uma tal doutrina, mas sim para dirigir a meditação para o fato de que todo o visar habitual sobre o ser mesmo (incluindo aí as ontologias e antiontologias) tem sua origem no domínio do ser e de sua “verdade” histórica determinada. ( GA65 (Casanova): 261

A antropologia nunca pode, por isso, ser reclamada como argumento contra essa interpretação, e isso para não falar do fato de que a prova de quaisquer “pressupostos”, sobre os quais se baseiam uma opinião, ainda não decide nada sobre sua “verdade”, de que pressupostos enquanto tais em geral ainda não são nenhuma objeção. GA65 (Casanova): 261