Introdução
§1. O título “ontologia”
“Doutrina do ser”; válido somente em sentido mais amplo. Inaceitável enquanto disciplina particular. Na fenomenologia: o caráter objetual provém da consciência da objetualidade Omite-se a questão no campo do ser do qual se deve extrair todo sentido ontológico A partir disso, portanto, o título é propriamente: hermenêutica da faticidade
Prefácio - Hermenêutica da faticidade Colocar questões. “Influências”
Parte I. Caminhos de interpretação do ser-aí ocasional Determinação indicativa do tema da faticidade
1 Hermenêutica § 2. O conceito tradicional de hermenêutica Platão: ερμηνεία = notificação Aristóteles: ερμηνεία = λόγος δηλουν, άληθεύειν, isto é, tornar acessível. Logo: tradução, comentário, interpretação Agostinho Posteriormente, hermenêutica = doutrina da interpretação; Schleiermacher: doutrina da arte de compreender Dilthey
§ 3. Hermenêutica como autointerpretação da faticidade “Hermenêutica” em sentido originário: o trabalho de tornar o ser-aí próprio acessível para si mesmo em cada ocasião O estar desperto. A compreensão não tem o ser-aí por objetualidade, mas é um como do próprio ser-aí A posição prévia da hermenêutica, a possibilidade mais própria do ser-aí, a existência; seus conceitos são existenciais A posição prévia, a concepção prévia. O caráter ontológico da possibilidade de ser. A questionabilidade da hermenêutica. O impessoal. O colocar em ação hermenêutico. Nada se possui definitivamente; viva e ativa somente na interpretação que a filosofia faz de si mesma. Não é moderna nem é assunto para a curiosidade filosófica, a discussão ou o público
2 A ideia de faticidade e o conceito de “homem” Evita-se o conceito de “homem”. A dupla raiz segundo a tradição: 1) no Antigo Testamento: pessoa, criatura de Deus 2) ser vivo dotado de razão, ζωον λόγον εχον
§ 4. O conceito de “homem” na tradição bíblica Referências: 1) Gênesis 1,26 2) Paulo 3) Taciano 4) Agostinho 5) Tomás de Aquino 6) Zwinglio 7) Calvino 8) Scheler
§ 5. O conceito teológico e o conceito de “animal rationale” Também o conceito de “animal rationale” não é mais compreendido a partir de seu solo original Scheler. Ο “λόγον εχον”, originariamente como o lidar da πραξις, ocupar-se com… É constitutivo o estado de relação com Deus (ser criado, status corruptionis, gratiae, gloriae) Agora neutralizado em consciência de normas e de valores
§ 6. A faticidade como ser-aí em sua ocasionalidade. O hoje Tema: a faticidade, isto é, o ser-aí próprio em seu “aí” ocasional, acessível no “hoje” Mal-entendidos: 1) as tendências de nosso “tempo hodierno”; ou 2) o ponderar profundo de um eu ensimesmado Melhor: explicação hermenêutica. Estímulo de Kierkegaard O hoje vive da sua própria interpretação: a falação, o público, a medianidade, o “impessoal” A máscara Van Gogh. Situação da universidade
3 A interpretação hodierna do hoje § 7. A interpretação do hoje na consciência histórica O modo como uma época vê seu passado é sinal de como está aí no seu hoje (temporalidade) Deduzi-lo das ciências históricas do espírito Para elas, os testemunhos de épocas passadas são expressão propriamente cunhada pelo estilo A cultura é organismo. Spengler. Enquanto organismos, todas as culturas possuem o mesmo valor; dali, a história universal Seu método, a morfologia Classificação pela comparação de formas
§ 8. A interpretação do hoje na filosofia hodierna Tarefa da filosofia: determinar o todo do ente, e também o ser-aí da vida nele Além disso, também constitui tarefa primeira o esboço da rede de classificação do universal Assim, o relacionai é a objetualidade própria: o em-si imutável em oposição à “realidade sensível” Platonismo ou Hegel, dialética. Kierkegaard Exemplo: Spranger Platonismo dos bárbaros “Metafísica objetiva” em oposição ao “historicismo”. Classificação universal
§ 9. Suplemento sobre “dialética” e fenomenologia À dialética hodierna falta-lhe o olhar unificador da objetualidade própria da filosofia Sente-se superior à fenomenologia, por ser o nível supremo do conhecimento mediado, que alcança até o irracional Contra isso: o decisivo é o olhar fundamental do assunto A dialética de Hegel vive do alheio O hegeliano, charlatanice; ver Brentano O perigo da fenomenologia: crença acrítica na evidência
§ 10. Olhar sobre o percurso da interpretação Nossa objetualidade: o ser-aí em sua ocasionalidade. “Objetualidade” Expressa-se no caráter público da consciência de sua formação A falação. Que caráter ontológico mostra-se nestes modos de interpretação e de ter-se-a-si-mesmo?
4 Análise do ser relacionado da interpretação ocasional em sua objetualidade. “Como isto ou aquilo” é visto o ser-aí ocasional?
§ 11. A interpretação do ser-aí na consciência histórica O passado enquanto expressão de algo, visão prévia do estilo; funda a fixação e a conservação uniforme O olhar prévio já eficaz no trabalho fundamental, a crítica das fontes Demorar-se ocupado, de igual significado, em toda cultura, ordenação ou classificação universais, objetivos, por meio da comparação de formas Sem paragem. Ser simplesmente dado passado Sete características fenomenais. Caráter de realização: a curiosidade atraída-dirigida Spengler: a história deve ser objetiva O ser-aí assim interpretado possui um presente e seu porvir do mesmo modo que o passado Influência de Spengler nos especialistas Imitação da história da arte
§ 12. A interpretação do ser-aí na filosofia Questão: como e de que maneira tem a filosofia sua objetualidade à vista? Falta de resposta nas filosofias Vê-se na própria tendência da sistemática: a filosofia é ordenação ou classificação universais Ponto de partida, o temporal, o concreto tomado em suas generalidades essenciais Classificação no marco já existente, ou o sistema vai se configurando apenas pela classificação Três fatores de procedimento filosófico A configuração da rede de classificação, um atravessar universal da rede de relações, na qual cada um é também o outro O tanto isso como aquilo como estrutura fundamental da rede de classificação absoluta O procedimento adequado: mobilidade universal, estar em todas as partes e em lugar algum, curiosidade absoluta e proprietária de si mesma Pelo caráter público esta filosofia é considerada: 1) por ser objetiva, em oposição ao relativismo; 2) pela concordância geral, em oposição ao ceticismo; 3) por ser dinâmica, próxima à vida; 4) por ser, ao mesmo tempo, universal e concreta, em oposição à especialização detalhada.
§13. Outras tarefas da hermenêutica Em ambas as linhas de interpretação, o ser-aí procura ter-se, assegurar-se a si mesmo aí objetivamente A curiosidade, certa mobilidade do ser-aí; o ser-aí é esta mobilidade na medida em que nela se possui a si mesmo. As características do ser interpretado são categorias do ser-aí, são existenciais
Parte II. O caminho fenomenológico da hermenêutica da faticidade
1 Consideração preliminar; fenômeno e fenomenologia § 14. A propósito da história da “fenomenologia” Fenômeno: o que se mostra, determinada maneira de ser objetual Dessa maneira nas ciências naturais: objetualidade da experiência Por elas orientam-se as ciências do espírito e a filosofia: teoria da ciência e psicologia, seguindo supostamente Kant Dilthey Diante disso, imitação autêntica das ciências naturais em Brentano: criar a teoria inspirando-se nas mesmas coisas (os fenômenos psíquicos) Husserl (Investigações lógicas): a fenomenologia da psicologia descritiva. Nas vivências da consciência (consciência de algo = intencionalidade) devem buscar-se as objetualidades da lógica “Fenômeno” refere-se ao modo de acesso, “fenomenologia” é um modo de pesquisar Erro: as matemáticas como modelo. - Redução do conceito de fenômeno (objetualidade, tal como ela se mostra) a objetualidades da consciência Influências externas (teoria do conhecimento, Dilthey, idealismo transcendental e realismo etc.) e, para fora, indefinição geral.
§ 15. A fenomenologia em sua possibilidade enquanto um como da pesquisa A fenomenologia pretende tomar as objetualidades tal como elas mesmas se mostram, isto é, mediante um olhar determinado Este surge de um estar familiarizado com o ente, da tradição Esta pode ser encobridora, dali que uma tarefa fundamental da filosofia seja a crítica histórica (A falta de historicidade da “fenomenologia”, “evidência” natural) Retorno aos gregos O encobrimento é inerente ao ser da objetualidade da filosofia, o que exige a constante preparação do caminho A tarefa radical da hermenêutica: transformá-lo em fenômeno
2 “Ser-aí é ser em um mundo” § 16. A indicação formal de uma posição prévia Posição prévia: enquanto se coloque previamente o ser-aí A indicação formal não é um enunciado estabelecido, mas conduz o olhar para o curso adequado Afastar mal-entendidos
§ 17. Mal-entendidos a) O esquema sujeito - objeto objeto, consciência e ser Sua relação é determinada pela teoria do conhecimento. Discussões intermináveis, falsos problemas, difícil de serem eliminados b) O preconceito da liberdade de perspectiva Ausência de crítica, que pretende aparecer como objetividade. Em contraposição: apropriação do ponto de vista apropriado
3 A formação da posição prévia
§ 18. Um olhar para a cotidianidade A cotidanidade, a medianidade, o impessoal Que significa “mundo”? Que significa “em um mundo”? Que significa “ser em um mundo”? Visão preliminar dos passos da explicação intuitiva. O vir ao encontro, a significância, a ocupação, o mundo circundante (espaço). O cuidado O ser-aí enquanto ser ocupado sendo-aí no mundo Numa primeira aproximação, o mundo vem ao encontro na ocasionalidade; o demorar-se
§ 19. Uma descrição imprecisa do mundo cotidiano As coisas da realidade cotidiana enquanto coisas espaciais e materiais Isso a modo de substrato a que se atribuem valores; mas a significância é um caráter ontológico Quatro aspectos da desconstrução crítico-fenomenológica dessa teoria.
§ 20. Descrição do mundo cotidiano a partir da lida atenta ou entretida Fenômenos do mesmo mundo circundante enquanto possui o caráter do que vem ao encontro A descrição imprecisa, no fim, estende-se retroativamente até Parmênides O acesso ao ser do pensamento. O intencional
4 A significância como caráter de encontrar-se no mundo § 21. Uma análise da significância (Primeira versão) A significância: o como isto ou aquilo e o como do vir ao encontro Com ela dá-se a abertura: 1) do ser simplesmente dado (da manualidade, do para-quê). A cotidianidade e a temporalidade 2) do mundo compartilhado; e com os outros, sem destacar-se, “o impessoal” da cotidianidade A significância do ser-aí no que vem ao encontro O caráter do aí. A insistência pelo estabelecimento de teorias do conhecimento
§ 22. Uma análise da significância (Segunda versão) A significância do ser-aí mundano de “meras coisas” O percurso da análise
§ 23. A abertura a) O ser simplesmente dado O ser-aí para-quê não é algo que se acrescenta posteriormente ao que vem ao encontro, mas constitui seu ser-aí, seu ser simplesmente dado b) A manifestação do mundo compartilhado Os outros com os quais nos relacionamos estão aí com o que cotidianamente nos encontramos e, com eles, o “próprio impessoal”, sem reflexão ou auto-observação
§ 24. A familiaridade A familiaridade: rede de referências na e desde a qual “impessoalmente” se conhece
§ 25. A imprevisibilidade e o comparativo Sobre a base desta familiaridade indistinta pode aparecer o estranho; também o que molesta, o casual, o imprevisível, o “comparativo”
§ 26. O caráter de encontrar-se no mundo O ser-aí encontra-se (no mundo) no como daquilo com que se ocupa Aquilo de que se ocupa: o ser ou estar ocupado; da temporalidade própria, dos momentos “kairológicos” do ser-aí Aquilo de que se ocupa constitui a rede de referências da abertura; nela, a lida com as coisas abre o circundante, a espacialidade Ser-no-mundo é cuidar, não aparecer ou figurar entre outras coisas No aí do qual se ocupa, a vida ocupa-se de si mesma Ocupação, mundo circundante, mundo compartilhado, mundo próprio enquanto maneiras de encontrar-se cotidianamente no mundo ao lidar aí com as coisas como elas se oferecem, O circundante, a medianidade, o público Neles, encobre-se o cuidado A falta de cuidado, que pode sobrevir de uma dificuldade A curiosidade: um como do cuidado; o mascaramento O cuidado: um fenômeno fundamental do ser-aí
Anexo - Suplementos e aditamentos I. Investigações para uma hermenêutica da faticidade (01/01/1924) (a propósito dos §§ 15-20) Programa (para um ensaio?): desconstrução histórica ocasional a propósito de investigações concretas.
II. Temas (01/01/1924) (a propósito dos §§ 7-13) Tema: o hoje; na filosofia e na consciência histórica. Husserl, Descartes, os gregos; Dilthey.
III. Da visão geral (01/01/1924) (a propósito dos §§ 7-13-15)
Tomar como ponto de partida a fenomenologia como disciplina? Melhor: do hoje, desconstrução. Para isso (04/01/1924): Ou tomar como ponto de partida também a fenomenologia enquanto possibilidade!
IV. Hermenêutica e dialética (a propósito do § 9) A hermenêutica como a possibilidade mais radical do apreender por meio de uma nova conceptualidade.
V. Ser humano (a propósito dos §§ 4-5) Modo de realização e de temporalização da filosofia: o deter-se junto a… -. Questionabilidade absolutamente radical.
VI. Ontologia; natura hominis, (a propósito dos §§ 4-5) Somente a partir da paragem vê-se o movimento.
VII. O colocar em ação (a propósito do § 3, p. 21) Que o ser-aí seja concebido de antemão “como isto ou aquilo” surge de uma interpretação de si mesmo, o estar desperto do ser-aí para si mesmo.
VIII. Consumação Esgotamento.
IX. Fenomenologia e dialética (a propósito do § 9, p. 50)
X. Homo iustus (O homem justo) (a propósito dos §§ 4-5) O ser humano originariamente in gratia conditus; pelo pecado original, condenação à desgraça e à morte.
XI. A propósito de Paulo (a propósito dos §§ 4-5) Carne - espírito; o quê enquanto como da faticidade.
XII. Significância (a propósito do § 22) O cuidado permite que a significância venha ao encontro enquanto ente. O caráter do aí.