Possuir simples conhecimentos (Kenntnisse), por extensos que sejam, não constitui um saber (Wissen). Mesmo quando estes conhecimentos são organizados num plano de estudos e por exames, e dirigidos para aquilo que é, do ponto do vista prático, o mais importante, eles não constituem um saber. Mesmo quando estes conhecimentos, que temos, delimitando-os, reconduzindo-os à medida das mais urgentes necessidades, estão ‘próximos da vida’, a sua posse não constitui um saber. Se alguém exibe tais conhecimentos e se exercita, por outro lado, em os utilizar habilmente por meio de algumas artimanhas, ainda assim, em face à realidade real, que é sempre outra coisa que aquilo que um bom burguês compreende pela proximidade da vida e da realidade, ele ficará desamparado e tornar-se-á necessariamente um charlatão. Porquê? Porque não há saber: saber significa, com efeito, poder aprender (lernen können). (HEIDEGGER. Introduction à la métaphysique GA40, trad. frac., Paris, Gallimard, 1967,pp. 33-34).